É um nevoeiro pegado este processo de directorização das escolas públicas! Mal dá para ver a nossa própria estupefacção. Os labregos dos docentes, os pequenos, aqueles que realmente trabalham no sistema educativo, e mantêm, malgré tout, a máquina em movimento, olham para tudo isto com o seu mais recente ar de bovinidade compassiva. E, se alguém liga os faróis e tenta ver além da sua tromba, recebe logo uma mão-cheia de areia nos ditos, que logo o restitui à imbecilidade.
O novo senhor director vai receber um suplemento mensal de entre 600 e 750 euros, enquanto os docentes, estacionados há anos na mediocridade das suas carreiras, vêem multiplicar todos os dias o trabalho imprestável a que estão submetidos e os seus magros salários desaparecerem no dia 10 de cada mês.
Claro, é tempo de contenção. É a crise. E eu, que não vejo tanta crise assim, (pelo menos quando olho para as carteiras de alguns), fico imaginando como o nevoeiro cresce e alastra.
Não contem comigo, no entanto, para impugnar nada nem ninguém. Apenas reclamo o direito de denunciar o escândalo que é um director de uma escola pública ganhar 3.000 euros mensais líquidos, enquanto os que se arranham na sua escola (nas aulas curriculares e nas aulas de apoio e de substituição, não pagas, e leccionadas em cubículos imundos, sem janela nem quadro; nos apoios conhecidos como salas de estudo a que nenhum aluno vai, mas que obrigam à permanência integral do professor; na planificação e preparação de aulas; na elaboração de materiais didácticos; na correcção, análise, avaliação e relatório de instrumentos; nas tarefas burocráticas que todos os dias recrudescem, como a elaboração de testes em conjunto, com critérios de correcção e grelhas de cotação homologadas, e actas e relatórios sobre cada treta que se faz ou deixa de fazer na escola) pouco passam dos 1.000.
Prefiro nevoeiro a areia. Dói muito menos nos olhos…
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