Fico sempre muito triste quando professores do ensino secundário de reconhecido mérito não conseguem dizer o que é necessário dizer, o que faz sentido dizer, o que faz falta dizer, quando se referem ao nosso “sistema” educativo e às copiosas reformas que este governo lhe foi debitando num afã quase compulsivo. Fico mais triste ainda quando aqueles meritórios professores o tentam dizer, ou o dizem mesmo, mas de modo primário e simplista, como se os seus prováveis leitores não pudessem entender senão um discurso muito popular, muito básico e até um pouco inapto. Gostaria de poder contar com alguém que, estando dentro do sistema educativo, pudesse ter um discurso tão capaz, honesto, clarividente, sério e veemente como a maioria dos que estão fora dele. (Não teçam expectativas de que possa ser eu a fazê-lo. Nunca fui, não sou nem serei jamais um professor de mérito, e muito menos de mérito reconhecido.)
Apresentarei como exemplo do que fica dito a já célebre “Carta Aberta a Sua Ex.ª o Senhor Presidente da República”, da autoria de um meriteiríssimo professor aqui meu vizinho, que circulou recentemente pelos mails de tudo o que é professor do ensino médio. Não refuto nada do que lá está escrito, pois não é difícil ver ali o verdadeiro retrato duma parte importante daquilo que se passa hoje no sistema educativo. Porém, ainda que aparente ser um homem simples e despretensioso, Sua Ex.ª o Presidente merecia receber uma carta um pouco mais bem escrita e mais radical e insurgente.
Sua Ex.ª e nós.
2 comentários:
...e tens toda a razão, caro Amigo.
Também recebi a tal carta - aliás a minha cara-metade é professora e até titular - e também fiquei um pouco desiludido com o estilo.
Que ele, o seu autor, tem razão, tem.
Mas por isso mesmo e porque até é Professor, mais se lhe exigiria em termos de retórica e de semântica.
Sic transit gloria mundi...
Abração.
Obrigado, grande amigo, sempre apurado na sensibilidade e no sentido de justiça e oportunidade de tudo o que dizes.
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