23 de maio de 2013

Parece que foi ontem (1)…

10 de Março de 2007 – “À espera da Síntese prometida”

O Tralapraki morreu, de facto, mas ainda não está completamente enterrado. Ficou, vejam lá, com o rabo de fora, a dar a dar. Os saudosos desta publicação - quero dizer, eu - vão ser levados (praticamente à força) a revisitar alguns posts passados. O de hoje aborda o tema da esperança que pode haver em outras visões sociais e políticas. No negrume do que nos aconteceu, parece ainda haver um túnel ao fundo do túnel… :)

(Visite-o, clicando na hiperligação do subtítulo).

18 de abril de 2013

FIM.
O "tralapraki" acaba aqui. Um grande abraço aos amigos que nele colaboraram, deixando um sorriso ou um esgar... 
Agora, sigam-me até o "só falo do que não sei". Vá lá, é só mais um sacrifício...

28 de março de 2013

tudo tem que ter um fim…

simio_ignorante… e o Tralapraki fecha-se aqui. Nele derramei 879 posts (um pouco menos do que tinha previsto) em seis anos e seis meses (um pouco mais do que fora planeado).

O Trala resolveu, portanto, dedicar-se à questão da Educação e acompanhou a luta dos professores, quando ela parecia alguma coisa de importante. Mal sabia ele (o Trala) que o que nasce como heroi morre como cobarde ou, numa imagem bem menos pomposa, nada é suficientemente sério que não possa arrancar-nos um descompassado riso, à mistura com um eloquente encolher de ombros.

Diante das lutas sérias que nos esperam, a luta contra Lurdes Rodrigues (uma senhora anónima que presidia, em 2008, aos destinos da Educação e contra a qual o desesperado e destemperado Tralapraki geniosa e arruaceiramente se levantou) não passou de uma birra incipiente, servida a fisgas.

É, portanto, uma nova guerra que se nos apresenta agora, muito mais soberba e crucial que aquela. Porém, como vos garanto que não se tratará ainda da batalha final, resolvi abordá-la com armas artesanais e suficientemente amadorísticas para não me esmurrar todo, no caso de elas me emperrarem na mão. Não pretendo matar ideologias, mas posso fazer-lhes cócegas (Já um dia vi um miúdo à beira da morte por causa de uma sessão de cócegas, podem acreditar). Não posso reorientar o país na direcção certa mas posso voltar as placas ao contrário. Não sei dar tiros na rua, mas posso açular os meus rafeiros.

De facto, o tempo do Trala passou. O seu projecto não faz mais sentido.

Por isso, vem aí o Só falo do que não sei, que espero permita registar as minhas mais incongruentes lucubrações e as pegadas mais ostensivas do novo tempo que aí vem.

Este espaço fica também aberto a todos os amigos do Facebook que nele desejem publicar

Até sempre.

     Post 879        (Imagem do “Só falo…”)

27 de fevereiro de 2013

Os blogues duram sete anos…

A Ex-Arma de Observação Maciça do Dragão… como as pragas do Egipto e os namoros de Jacob. Em média, ao fim dos sete anos, que é também o tempo da segunda crise dos casais, começam a definhar e acabam como plantas secas. Vi isso vários vezes. Oitenta por cento dos casos podem ser facilmente comprovados, atentando nos respetivos arquivos. Refiro-me, obviamente, aos blogs que foram ou são minimamente representativos, que se apresentaram como projeto mais ou menos consistente, e não aos blogues das crianças, feitos sob a inconsciência do ímpeto e logo esquecidos como brinquedos que passaram de moda.

Também neste blogue é notória a debilitação progressiva. O seu autor mexe os cordelinhos para lhe conservar o resto de vida que ainda ostenta, mas ele parece irremediavelmente acometido da doença do século – a solidão. O Trala fez sete anos em Novembro passado  (se fosse um cachorro teria uns 60 anos) e hoje está notoriamente anorético, com falta de luminescência que é o ar dos blogues.

Tudo isto vem a propósito de termos definitivamente perdido o Dragoscópio, o melhor de sempre, o pai de todos, o demiúrgico Dracospópio, que se finou em Dezembro e que, por honrosa excepção, talvez por ser único, durou nove e não sete anos. Morreu como viveu sempre, alçado na melhor literatura que este país leu na blogosfera. E morreu assim:

“O tempo de escrever para o boneco e falar para as paredes está a chegar ao fim. Outro tempo, um tempo mais antigo e demiúrgico prevalece: o tempo de voltar a escrever para o baú. Gastei nove anos da minha vida a falar aos presentes. Não me poderão acusar nunca de não ter pago tributo. De não ter descido à polis. Resta-me agora sacudir o pó das sandálias e, se voz alguma tenho ou pena me resta, ir falar aos vindouros. Eu e, mais do que eu, os antepassados que em mim reverberam.

"Esperos", no grego, significa isso mesmo: entardecer, poente, oeste. E, todavia, é nesse entardecer, nesse findar da luz que nasce a esperança - a espera pela manhã de um novo dia. Por isso se diz (digo-o eu, pelo menos) que a esperança, na etimologia tanto quanto na vida, é filha do crepúsculo. É assim, é cíclico, eterno. imune e inexorável. Desde o princípio dos tempos...  Se é que no Tempo o princípio e o fim se destrinçam.”

Também espero que o dragão regresse, numa apoteose de laurífica ostentação.

      Post 878        (Imagem do Dragoscópio)

17 de fevereiro de 2013

há rir e rir…

Os humoristas dizem muitas vezes que hoje não é praticamente necessário ter um grande talento, toque de genialidade ou dom especial para, nas actuais circunstâncias, fazer rir. Afirmam com alguma regularidade que a situação do nosso país é, só por si, um manancial do mais requintado e insofismável anedotário que alguma vez atravessou lusas paragens. Declaram que basta dotar a fauna que fala e se mostra por aí de alguns poucos traços técnicos relativos à composição de caricaturas para que a realidade realce e expanda o que na verdade já é: uma comédia.

Sem querer contrariar, até porque a comédia está tão próxima da tragédia que há gente que as confunda, prefiro achar que a fauna desfilante da neoliberal procissão proporciona um espectáculo mais deprimente que humorístico, mais neurológico que hilário, mais aterrador que cómico, mais grave e perigoso que burlesco.

Sem necessidade de grande talento, também não nos custa ver, nesta procissão insana que não passa do adro, neste préstito funério que nem encomenda as almas, neste cortejo sem prendas nem flores, palhaços galhofeiros que apavoram crianças, títeres que espetam corrosivos punhais, bobos que matam por asfixia de riso, truões que nos espoliam, nos definham, gargalhando.

Que me desculpem os humoristas, mas um espectáculo assim pode muito bem ser uma tragédia, um holocausto, um estertor. O mesmo espectáculo vira riso para os poderosos e sacrilégio para os desamparados. Um espectáculo assim pode muito bem ser de morrer a rir…

     Post 877     (Imagem daqui)

2 de fevereiro de 2013

obsessões do meu ipod (30)

Formiga Bossa Nova

Já no tempo do Tilo’s Combo este país tinha mais cigarras que formigas. Quase tenho, sobre o assunto, duas certezas mais ou menos pacificadas: a primeira é que este tema, (gravado em 1945 por Tilo’s Combo e mais tarde por Amália, de Alain Oulman sobre poema de Alexandre O’Neil) deve ter sido uma das mais importantes bandeiras da recuperação salazarista do cagaço da segunda guerra. De facto, passados que eram os anos da calamidade europeia, Salazar precisava de um hino popular para escravizar o povo com vista ao urgente enchimento dos cofres do estado; a segunda quase certeza é que este tema recorrente terá chegado aos ouvidos dos novos escravizadores do povo. A história ditou-lhes que o tema terá, ao tempo, surtido efeitos maravilhosos na tarefa de escravização dos portugueses obscenamente perdulários. Obviamente, a referência ao tema, magestosamente pronunciada pelo senhor primeiro-ministro e por um monte de banqueiros poupadinhos, traria de volta a apologia da afadigada formiga e a condenação da devassamente dissipadora cigarra que, como sabemos, somos todos nós, os devassos cantadores da coceira generalizada, arranhando os tomates bem acima das nossas possibilidades. (Bem sei que esta última alusão é escandalosamente sexista, já que mulher não pode, de facto, entregar-se a tal actividade, a menos que, como companheiras dedicadas e solidárias, ajudem os homens nessa árdua tarefa, até à total pacificação de todos os pruridos…). Fica aí, portanto, o hino ao trabalhinho mal remunerado e ao silêncio respeitoso dos escravos.

     Post 876   

1 de fevereiro de 2013

ouvido aqui e ali

Três horas da tarde. Uma tasca às moscas. (Muito poucas, visto que estamos no Inverno)

- Não lhe posso servir o cafezinho porque não sei trabalhar com a máquina das facturas.

- Sendo assim, quando me pode tirar o café?

- Só a partir das 6 horas que é quando o meu puto vem da escola.

- Não me pode servir o café, mesmo sem factura? Só desta vez…

- Nem pensar. Por quem me toma? Eu sou um indivíduo sério, não fujo aos meus impostos e é se queremos que o nosso país vá para a frente…

- Então o que sugere?

- O costume. Vamos sentar ali a jogar uma cartada até às 6 horas. Aí, o meu amigo já pode tomar a sua biquinha. E grátis, se me ganhar à bisca…

    Post 875            (Imagem daqui)

24 de janeiro de 2013

Chipre Imperial

chipreÉ absolutamente escandalosa a degenerescência dos produtos cosméticos. A falsificação generalizada dos produtos cosméticos está-me a deixar perigosamente nervoso. A pasta medicinal Couto deixou de ser medicinal e vende-se nos botecos de bairro; a lanolina perdeu a sua mística redentora; o algodão Thermogene, de calor avassalante, já não nos faz cuspir fogo; o wash and go é uma síntese impertinentemente desqualificada do velho trato capilar, tão demorado como conceituado; o pó de arroz virou pó de talco; o sabonete patti da minha infância, inefável de aromas subtilmente afrodisíacos, cheira a outro sabonete qualquer; o Cacharel cheira a limonada.

Mas a história que vos quero contar gira à volta do Chipre Imperial, um sabonete dos anos setenta que representa, certamente, o mais notório caso de mistificação cosmética.

Na semana passada, deambulando por um supermercado, deparei com uma prateleira do velho sabonete Chipre Imperial e travei às quatro rodas, paralisado pelo espanto e pela saudade. (O espanto parou as duas rodas da frente e a saudade parou as outras duas). Comprei uma boa porção e fui para casa, convicto da transformação que aquele sabonete iria operar na minha vida. Enquanto isso, a minha memória, evasiva e tumultuadamente, transportou-me até a segunda metade da década de setenta: um duche lento, uma expectativa suculenta, um espelho sorridente de pasta Couto, uma hipótese de erecção e o sabonete Chipre Imperial, o ubíquo e compassivo Chipre Imperial, a permanente segurança, o terror impiedoso de todos os odores, a salvação dos dias mornos, o elixir da virilidade absoluta. Uma manhã com Chipre Imperial assegurava-me uma tarde promissora e uma noite sempre irrevogavelmente cumprida. As mulheres sucumbiam ao suave aroma do Chipre e o meu corpo respondia voluptuoso e imponente aos seus ataques inteligentemente subreptícios.

Há oito dias que me lavo (digo, me esfrego, me derreto, me envolvo, inundo) com Chipre Imperial. Só que, desta vez, o sabonete de todas as delícias está miseravelmente falsificado., Nem um único espelho me sorriu, nem uma única mulher reagiu favoravelmente ao meu aroma. Pelo contrário, o sabonete descredibilizou a minha tarde e emudeceu a minha noite. Desinspirou a minha verve, adocicou-me sovacos e cuecas. Enfim, uma miserável falsificação de sabonetes e os falsários por aí livres e impunes!

O meu amigo João Luís disse-me que isso se pode dever ao facto de eu ter feito 61 anos no mês passado. Definitivamente, os nossos amigos estão a ficar destituídos de sentido crítico e acreditam em qualquer patranha. Quer dizer, os falsários proliferam sem restrições e depois o nosso aniversário é que tem a culpa???

       Post 874      (Imagem daqui)