Em 1979, um bando de docentes meio esgrouviados (entre os quais se contava este vosso amigo) escrevinhava à mão (e fotocopiava depois uns 30 exemplares) um semanário ricamente ilustrado que continha as mais actuais e comprometedoras reflexões sobre o sistema educativa do tempo. Hoje, enquanto esvaziava gavetas do pó da história, caiu-me entre os dedos este exemplar que, à falta de inspiração e originalidade, me permitirá cumprir as próximas duas semanas de posts aqui no Tralapraki. Digitalizei a capa e passo a apresentar o conteúdo do artigo de abertura, uma profunda reflexão sobre a avaliação do Pedro (na altura, havia mais Pedros que gente, o equivalente actual dos Gérsons e das Samantas). Aí vai:
“A História de João Ruboredo A. Rasca
O Dr. João Ruboredo A. Rasca está em profundo transe avaliativo. Há semanas que o perseguem duas (ou mais) opções contraditórias, uma delas fundada na perspectiva permissivista, massiva, construtivista, apaziguadora e a outra na perspectiva rigorosista, elitista, desafiadora, filtradora, seleccionista. E ambas se interpenetram no seu espírito com igual intensidade, de modo que João A. Rasca está mais à rasca que o seu próprio nome, tanto mais que, a cada hora, se juntam mais e mais complexos elementos à parafernália dos seus instrumentos de avaliação.
João Ruboredo começou por rodear-se de um montão de grelhas de observação directa, seis resultados de testes sumativos, 28 resultados de fichas formativas, cadernetas de registos avulso, o programa em vigor da disciplina, uma fotocópia com reflexões sobre avaliação, a taxonomia de Bloom, as teorias e Maslow, de Frenet, de Piaget, de Maggi, de Knorr, etc, a Lei de Bases do Sistema Educativo, o Regulamento do Fundo Monetário Internacional, o Aprendiz de Pigmalião e uma fotocópia do Pedro, nº 3 da turma T, do 9º ano, garoto rebelde e inconformista, tanto quanto meigo e dócil, tão fera enjaulada como regato cristalino, cheio de vida, cheio de vícios, cheio de virtudes, cheio de genica, cheio de professores e cheio de sono.” (…) (Continua)
Post 858 (Imagens da edição original)
2 comentários:
Hehe Que maravilha! Aguardo a continuação, ansiosamente:)
Como a Faty Laouini, também eu fico à espera de mais. Ri-me com este hilariante texto e lembrei-me, com saudade, das nossas reuniões de grupo, onde dois inteligentíssimos colegas teciam comentários do mais fino humor que eu já conheci e sorriam com o mais ingénuo e sarcástico sorriso que eu já vi. Como era possível conjugar inocência com verrina? Depois de Eça, só eles!
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