1 de outubro de 2012

Mas ela move-se…

O mundo gira, o país mergulha em contradições erráticas e mais de quarenta conjurados mexem-se desconfortáveis nas cadeiras. Afirmam que não sabem qual será o seu papel como patriotas, vendo o país perder a sua independência. Em 1640, irromperam por um salão real adentro e atiraram pela janela abaixo o português vendido Miguel António Borges de Vasconcelos. O mundo gira e os conjurados de hoje mexem desconfortavelmente as bundas nas suas cadeiras de espaldar, obrigados a acalentar a ideia de uma insurreição militar contra este estado de coisas que ninguém ainda soube definir. E de facto, até mesmo um general de cinco estrelas se sente ameaçado pela situação de protectorado em que o país hoje se ajoelha, e também porque o ordenado ou a reformazita ao fim do mês estão a diminuir a olhos vistos e ninguém tem a certeza se eles se manterão amanhã…

Estou em crer que o primeiro sítio onde a tropa se vai apresentar, armada até aos dentes de categórica e convincente dissuasão, não é no quarto da Duquesa de Mântua nem no Rádio Clube Português. Desta vez, a tropa irá para o Continente ou o Pingo Doce tentar evitar o saque dos esfomeados, proteger a propriedade privada e abotoar-se com uma ou outra picanha que por lá esteja à mão de surripiar. (Uma boa picanha, acompanhada de bom vinho tinto maduro é um excelente afrodisíaco para garantir o romantismo da iminente sequela da revolução dos cravos).

Só que, afirmam as más-línguas, o que saiu da Revolução de 1640 não foi, de facto, nada de especial para o povo. Os labregos continuaram labregos e a maioria deles nem notou a diferença entre o Filipe de Espanha e o João de Portugal, ambos quartos. Afirmam as más-línguas que, em 1974, os labregos continuaram labregos, tendo achado ao princípio que já não o eram, mas adquirindo depressa a consciência de que nunca tinham deixado de o ser.

Na medida em que ambas as restaurações (1640 e 1974) tiveram produtos relativamente débeis, é provável que, desta vez, os conjurados de 2012 pretendam ficar com o poder um pouco mais tempo, enfim, para garantir que não cai nas ruas e que não se esfarela todo nas mãos de jovens irresponsáveis da geração iphone. E também porque o poder é como o dinheiro e a alegria – nunca é demais. É bem possível que alguém siga a receita de Manuela Ferreira Leita, essa nobre esquerdista, de deixar o regime democrático em banho-maria por um bom tempo…

A terra move-se. Quanto a este governo, pode não haver alternativa. Mas há tourada pela certa…

       Post 856         (Imagem daqui)

1 comentário:

Anónimo disse...

excelente crítica.