20 de junho de 2012

Montgolfier, Montgonflier, mon Dieu…

Quando éramos schoolburros* do quinto ano, actual nono ano, éramos bons alunos e estudávamos um bocado. Não porque gostássemos de estudar (éramos garotos normais, que diabo), mas simplesmente porque todos ansiávamos ver reduzido o número de varadas que, de ordinário, nos caía pelas orelhas abaixo, especialmente nas aulas de Física.

Ora, os irmãos Montgolfier tinham construído no século XVIII um diacho de um balão que se elevou no ar sozinho, perante a admiração de todos, faz agora uns 230 anos e o Sequeira sabia isto tudo, com pormenores que nem o professor conhecia. Apesar disso, nunca se livrou das vergastadas nas orelhas, simplesmente porque dizia Montgonflier em vez de Montgolfier. E o Sequeira nunca se queixou do professor de Física, mas sim do cientista do balão, que tinha um nome impronunciável.

(Em se tratando de um blogue sobre educação, o Tralapraki está amplamente justificado por ter trazido a lume este modesto incidente que, obviamente, esclarece à saciedade o tipo de relação que os professores mantinham com os alunos nos idos de sessenta, ou seja, uma relação confortavelmente estável.)

Mas, que fique claro, não foi esta a razão por que me lembrei disto hoje. A razão é que, vejam lá, encontrei ontem o Sequeira, vindo de França para um mês de férias aqui na praia de Mira (onde é que eu já li isto?). E não sei se foi da cerveja ou de alguma reminiscência que o seu rosto me tivesse sugerido, lembrei-me claramente do professor de Física e do balão admirável de Joseph e Jaques e, claro, das bordoadas.

- Já sabes como se chamam os irmãos que lançaram um balão em 1783? – perguntei-lhe eu, quarenta e sete anos depois das varadas, na espectativa de uma resposta que nos remetesse, sem brumas nem omissões, à nossa esplendorosa adolescência.

- Agora sei.– disse o Sequeira. - Eram os irmãos Montgonflier… Calma, eu disse Montgonflier para me vingar desses franceses ridículos, amiguinhos da Merkel, que não me dão a reforma por inteiro. E também porque não vi nenhuma vara nas redondezas, é claro. Mas é Montgolfier o nome atoleimado desses dois irmãos imprestáveis, que nem sequer inventaram o balão. Quem o inventou foi um português de nome escorreito, o padre Bartolomeu de Gusmão. Ainda bem que vim a tempo de ver os quartos de final aqui na minha terra!

 

*Schoolburros – termo inventado pelo João Luís que tinha dificuldade em dizer schoolfellows.

    Post  841        (Imagem daqui)

2 comentários:

Anónimo disse...

Os castigos corporais eram realmente dolorosos duplamente. Enlameavam a nossa auto-estima e castigavam-nos o corpo,mas havia outros.
Conheces algum inventário das punições desses tempos? Gostaria de saber se estão inscritos alguns que eu presenciei.
Com a tua maestria, pões a nu alguns dos métodos de ensino/aprendizagem dos tempos salazarentos.
Isto não quer dizer que os de hoje não tenha muitos defeitos. Acho que hoje, os alunos não estudaram pedagogia suficiente para lidarem com os mestres. Por isso, estes nunca mais aprendem!!!!:-) OF

Anónimo disse...

"Os alunos não estudam pedagogia suficiente para lidarem com os mestres" eheheheh, muito bem observado. É baralhando tudo de novo que se faz pedagogia nova (e literatura boa...).
Grande abraço.
joao de miranda m.