Uma velha anedota do velho Reader’s Digest: Um pedinte, sentado numa esquina, com um velho violino na mão, vai chamando a atenção dos passantes. -“Meus senhores, dêem-me uma esmolinha, porque este violino é o meu único ganha-pão… e eu não o sei tocar.”
Substituamos agora o pedinte por um professor do ensino secundário, substituição essa que, aliás, não é demasiado forçada nem obriga a grande esforço de imaginação. Substituamos também o violino do pedinte pelo ganha-pão do professor, o canudo com que dantes via Braga, mas agora não vê nem o Cabedelo. Ficaremos então com um professor a pedir esmola numa esquina qualquer, estendendo a mão com que segura um esvoaçante certificado, sem saber exactamente o que fazer com ele…
Mas levemos o símile um pouco mais longe e, em lugar do canudo, coloquemos mesmo uma verdadeira competência para ensinar, uma competência para ensinar feita de conhecimento, de sabedoria, de vontade. Será que os professores ainda sabem mesmo tocar tal instrumento? Afinal, “ensinar” dedilha-se ou toca-se com arco? As nossas estratégias estão actualizadas? Estão as nossas cordas afinadas? São os nossos métodos eficazes ou não passam de aplicações pontuais de psicotrópicos ou choques eléctricos em alunos ora grosseiros ora sonolentos? É que, depois do que nos fizeram, não creio que sejamos ainda professores, mas sim uma espécie sui-generis de pedintes sem violino, cuja competência evanescente nos terá irreparavelmente abandonado. (Veremos se ainda a temos se um dia voltarmos a precisar dela).
E ainda que a nossa música continue espertíssima, os nossos saberes frescos e intactos, rijas e perenes as nossas vontades, não encontraremos ouvintes disponíveis nas nossas salas de aula (digo, nossas esquinas da vida…)
Post 791 (Imagem daqui)
2 comentários:
amigo, nós morremos todos aos 60, quer vivamos mais, quer não.
OL
ah, mas é só nessa idade que escrevemos textos como este...
OL
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