20 de novembro de 2011

A única filosofia…

morte-bolinhaNão, a única filosofia não é morrer e estar morto. A única filosofia é viver e nem sequer saber que existe morte. Se algum de nós sabe que a morte espreita lá no fim do túnel de cada um, já morreu, eu lhes garanto. Não há vida que resista à abominável perturbação de se desconfiar de que a morte é uma tipa intransigente. Já bem nos basta a mulher que temos lá em casa. Nem que chovam pedras de moinho (sem buraco), quando a vossa cândida esposa vos manda sair à procura de natas, de abóbora, de coca-cola ou de feijão-verde, é o mesmo que dizer que, em alguns minutos, a dispensa estará de novo fornecida. Não vale a pena explicar tudo com muitos dedos, que está a chover a cântaros (sem boca) gatos e cães (enraivecidos), picaretas sem cabo, que agora estamos finalmente de bem com a vida e até resolvemos jogar na bolsa ou fundir a nossa empresa com aquela multinacional de sucesso. Ambas (a vossa esposa e a morte) vos prescrevem, de dedo no nariz – é agora!, e pronto, nada a fazer, lá vamos nós buscar a mercadoria, por entre as picaretas, lá vamos nós pendurar as chancas, para nunca mais chutar lata. Não existe vida que resista a tal conjectura.

Não, a única filosofia é afastar-se definitivamente da morte e das mulheres que adoram cozinhar. É partir do saudável pressuposto que nenhuma delas realmente existe, mesmo que a nossa seja tão indicativa e presente como um qualquer tempo verbal.

Que falta faz à vida a coca-cola, a abóbora, a morte, o feijão-verde, o pacote de natas? Nem que sejam natas do céu, porra!...

   Post 795    (Imagem daqui)

3 comentários:

AEfetivamente disse...

Eu não adoro cozinhar - o que tal facto faz de mim? Existo ou não? loool
***

odete ferreira disse...

Caramba,João!(A primeira palavra não é palavrão. É um indicativo presente de admiração!)
A tua reflexão, a tua ironia,o teu humor, no seu melhor!
E que tal o cândido esposo simular uma moléstia qualquer, uma gripe de morrer, um aperto intestinal,um relatório de avaliação, para não ter de cumprir ordens tão ditatoriais?
Estou contigo, a consorte, se quer natas, que as vá, formosa e alegremente, comprar! Ou será que é para deliciar o teu paladar? Um bom casamento não passa por aí?

Anónimo disse...

Fátima,
Existes e és grande!
bjs

Odete
Um bom casamento só passa por aí... Fiquei indeciso entre o relatório de avaliação e o aperto intestinal... :)
bjs
joao de miranda m.