O tralapraki deseja a todos os seus leitores, e a todos aqueles a quem o seu atrapalhado autor deve lealdade, reconhecimento, amizade e dinheiro, um feliz Meio Natal, meio cheio de felicidade, alegria e subsídio…
Post 797 (Imagem daqui)
O tralapraki deseja a todos os seus leitores, e a todos aqueles a quem o seu atrapalhado autor deve lealdade, reconhecimento, amizade e dinheiro, um feliz Meio Natal, meio cheio de felicidade, alegria e subsídio…
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Um prato de sabedoria Fui com ele, um pouco a medo, porque nessa altura ainda não tinha consolidado o meu conhecimento sobre esta teoria | |
Se te convidarem para almoçar, coisa que pode ser mais provável do que imaginas, visto que tempos de crise são propícios a milagres, procura indagar primeiro se o teu providencial host é pobre ou rico. Se for rico, declina o convite. Só se come bem em casa de pobre. Pobre nunca tem nada pronto, mas “arranja-se sempre qualquer coisa”. Acreditem no que digo, que esta sabedoria de sessenta anos foi adquirida ao longo de trinta e cinco, nas mais remotas paragens onde, em troca dos mais inesperados cardápios, fui debitando toda a minha cultura anglo-saxónica. Estava completamente settled que todo o grupo de Inglês iria, naquela tarde, gastar os últimos tostões do mês num restaurante chique, digo, fashion, que abrira portas recentemente lá na cidade de Bragança. Quis o destino que o pai de um aluno meu me raptasse para sua casa, às últimas badaladas do meio-dia. Como sempre, “não havia nada pronto, a casa era pobre, mas sempre se arranjava alguma coisa”. Fui com ele, um pouco a medo, porque nessa altura ainda não tinha consolidado o meu conhecimento sobre esta teoria, aliás, posteriormente comprovada “à saciedade” (também no sentido culinário, é claro) por outros docentes tão esfomeados quanto eu e, como eu, tão desejosos de aprender. É esta teoria simples que agora aqui vos deixo, | suculenta e graciosamente. De facto não havia nada que se comesse, nem onde sentar sequer… Mas uma valente panela de ferro, hanging from a wire, já rescendia a sopa de feijão seco, vapor e lembranças de antanho explodindo pelas bordas do pesadíssimo testo. E claro, vem-nos Eça, o danado de fino, à cabeça. Também ele sabia muito bem que só se come bem em casa de pobre, ele que andou pelas estranjas, sempre a tentar achar iguaria melhor do que aquela que devorou, com Jacinto, em Tormes, chegando á conclusão, no fim da vida e do capítulo, que foi gorada a sua busca. Não havia nada, era casa de pobre. Mas logo caiu, como por enquanto, um casalinho de chouriços sobre o brasido, logo se abriu o escano de pinho e uma toalha limpa, cheirosa de sabão, esvoaçou e se aquietou sobre a mesa. – “A sopa é feita com água da mina, não tenha receio”. (Pobre sempre tem uma mina algures e sempre receia a água da torneira). Vindo não sei de onde, logo estrepitou sobre a mesa uma boa canada de carrascão, daquele que vem às postas para o copo. Vinha acompanhada de um casqueiro fresco, oloroso. Pobre nunca tem nada, mas sempre se arranja alguma coisa… Os outros não sei o que almoçaram. Nem eles, segundo vim depois a saber. Comeram em casa de rico… Querem o quê? |
Post 796 (Imagem daqui)
Não, a única filosofia não é morrer e estar morto. A única filosofia é viver e nem sequer saber que existe morte. Se algum de nós sabe que a morte espreita lá no fim do túnel de cada um, já morreu, eu lhes garanto. Não há vida que resista à abominável perturbação de se desconfiar de que a morte é uma tipa intransigente. Já bem nos basta a mulher que temos lá em casa. Nem que chovam pedras de moinho (sem buraco), quando a vossa cândida esposa vos manda sair à procura de natas, de abóbora, de coca-cola ou de feijão-verde, é o mesmo que dizer que, em alguns minutos, a dispensa estará de novo fornecida. Não vale a pena explicar tudo com muitos dedos, que está a chover a cântaros (sem boca) gatos e cães (enraivecidos), picaretas sem cabo, que agora estamos finalmente de bem com a vida e até resolvemos jogar na bolsa ou fundir a nossa empresa com aquela multinacional de sucesso. Ambas (a vossa esposa e a morte) vos prescrevem, de dedo no nariz – é agora!, e pronto, nada a fazer, lá vamos nós buscar a mercadoria, por entre as picaretas, lá vamos nós pendurar as chancas, para nunca mais chutar lata. Não existe vida que resista a tal conjectura.
Não, a única filosofia é afastar-se definitivamente da morte e das mulheres que adoram cozinhar. É partir do saudável pressuposto que nenhuma delas realmente existe, mesmo que a nossa seja tão indicativa e presente como um qualquer tempo verbal.
Que falta faz à vida a coca-cola, a abóbora, a morte, o feijão-verde, o pacote de natas? Nem que sejam natas do céu, porra!...
Post 795 (Imagem daqui)
Chegam-me frequentemente às mãos alguns pedaços de prosa que, em determinadas circunstâncias e sob determinada luz, me apetece ajudar a difundir. É o caso do que se segue.
Tal como refere o leitor que mo enviou, o texto, barrento, acutilante, demolidor, não é um primor de arte literária. É, antes, uma denúncia de que me faço eco, visto que, por vezes, sinto necessidade de ver estalarem todos os vernizes. Repito: não lhe subscrevo a forma, não lhe garanto o conteúdo, não o teria jamais escrito desse modo, não o reconheço como vindo de mim. (E não veio, de facto). Mas, solícito, deixo-o entrar em minha casa, beber da minha admiração, e apresento-o aos meus amigos, desejando que o ouçam com a atenção que merece. (A imagem que publico acompanhava o texto original no Jornal de Barcelos).
“O dia deu em chuvoso”, escreveu Álvaro de Campos. Num tempo soturno, melancólico, deprimente. “Tempo de solidão e de incerteza / Tempo de medo e tempo de traição / Tempo de injustiça e de vileza / Tempo de negação”, diria Sophia de Mello Breyner. Tempo de minhocas e de filhos da puta, digo eu. Entendendo-se a expressão como uma metáfora grosseira utilizada no sentido de maldizer alguém ou alguma coisa, acepção veiculada pelo Dicionário da Academia e assente na jurisprudência emanada dos meritíssimos juízes desembargadores do Supremo Tribunal da Justiça. Um reino de filhos da puta é assim uma excelente metáfora de um país chamado Portugal. Que remunera vitaliciamente uma “sinistra matilha” de ex-políticos, quando tudo ou quase tudo à nossa volta se desagrega a caminho de uma miséria colectiva irreversível.
Carlos Melancia, ex-governador de Macau, empresário da indústria hoteleira, personificou o primeiro julgamento por corrupção no pós 25 de Abril. Recebe, actualmente, 9500€ mensais; Dias Loureiro, um “quadrilheiro” do círculo político de Cavaco, ex-gestor da SLN, detentora do BPN, embolsa vitaliciamente 1700€ cada mês; Joaquim Ferreira do Amaral, membro actual da administração da Lusoponte com a qual negociou em nome do governo de Cavaco Silva, abicha 3000 €; Armando Vara, o amigo do sucateiro Godinho que lhe oferecia caixas de robalos e ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos, enfarda nada mais nada menos que 2000€; Duarte Lima, outro dos “quadrilheiros” do círculo político cavaquista, acusado pela justiça brasileira do assassinato de uma senhora para lhe sacar uns milhões de euros, advogado na área de gestão de fortunas, alambaza-se mensalmente com 2200€; Zita Seabra, que transitou do PCP para o PSD com a desfaçatez oportunista dos vira-casacas, actual presidente da Administração da Alêtheia Editores, açambarca 3000€… E muitos, muitos outros, que os caracteres a que este espaço me obriga, me forçam a deixar de referir.
Quero, no entanto, relevar um deles – Ângelo Correia, o famoso ministro do tempo da chamada “insurreição dos pregos”, actual gestor e criador de Passos Coelho que, nesta democracia de merda, chegou a primeiro-ministro “sem saber ler nem escrever”! Pois Ângelo Correia recebe 2200€ mensais de subvenção vitalícia! E valerá a pena recuperar o que disse este homem ao Correio da Manhã em 14 de Junho de 2010: “A terminologia político-sindical proclama a existência de ‘direitos adquiridos’ (…) Ora, numa democracia, ‘adquiridos’ são os direitos à vida, à liberdade de pensamento, acção, deslocação, escolha de profissão, organização política (…) Continuarmos a insistir em direitos adquiridos intocáveis é condenar muitos de nós a não os termos no futuro.” Ora, perante a eventual supressão da acumulação da referida subvenção vitalícia com vencimentos privados, o mesmo Ângelo Correia disse à RTP em 24 de Outubro de 2011: “Os direitos que nós temos (os políticos subvencionados) são direitos adquiridos”! Querem melhor? Pois bem. Este é o paradigma do “filho da puta” criador. Porque, depois, há o “filho da puta” criatura. Chama-se Passos Coelho. Ei-lo em todo o seu esplendor, afirmando em Julho de 2010: “Nós não olhamos para as classes médias a partir dos 1000€, dizendo: aqui estão os ricos de Portugal. Que paguem a crise”. E em Agosto de 2010: “É nossa convicção não fazer mais nenhum aumento de imposto. Nem directo nem encapotado. Do nosso lado, não contem para mais impostos”. Em Março de 2011: “Já ouvi o primeiro-ministro (José Sócrates) a querer acabar com muitas coisas e até com o 13.º mês e isso é um disparate”. Ainda em Março de 2011: “O que o país precisa para superar esta crise não é de mais austeridade”. Em Junho de 2011: “Eu não quero ser o primeiro-ministro para dar emprego ao PSD. Eu não quero ser o primeiro-ministro para proteger os ricos em Portugal”. Perante isto, há que dizer que pior que um “filho da puta”, só um “filho da puta” aldrabão. Ora, José Sócrates era um mentiroso compulsivo. Disse-o aqui vezes sem conta. Mas fazia-o com convicção e até, reconheço, com alguma coragem. Este sacripanta de nome Coelho, não. É manhoso, sonso, cobarde. Refira-se apenas uma citação mais, proferida pelo mesmo “láparo”, em Dezembro de 2010. Disse ele: “Nós não dizemos hoje uma coisa e amanhã outra (…) Nós precisamos de valorizar mais a palavra para que, quando é proferida, possamos acreditar nela”. Querem melhor?
“O dia deu em chuvoso”, escreveu Álvaro de Campos. É o “tempo dos coniventes sem cadastro / Tempo de silêncio e de mordaça / Tempo onde o sangue não tem rasto / Tempo de ameaça”, disse Sophia. Tempo para minhocas e filhos da puta, digo eu. É o tempo do Portugal que temos.
Nota – Dada a exposição pública do jornal com esta crónica na última página, este título destina-se apenas a não ferir as sensibilidades mais puras. Ou mais pudicas.
Luís Manuel Cunha in Jornal de Barcelos de 02 de Novembro de 2011.
(Enviado por José Santos Silva)
Post 794
Estou muito preocupado, João. Ontem, a minha turma do 11M portou-se bem. Não sei o que lhes aconteceu e temo que isso possa augurar alguma tragédia. Nunca tinha visto a turma quieta, calada, atenta, disciplinada, desperta e, para cúmulo desta inusitada postura, tudo isto ao mesmo tempo. Consegui dar-lhes uma aula completa, em total harmonia, cumpri o plano e ainda aceitaram, submissos, a prescrição de um pequeno trabalho de casa que, reconheço agora, foi um erro pedagógico grosseiro. Na verdade, deveria preferencialmente ter explicado que não haveria tpc, visto que o comportamento da turma tinha sido fabulosamente assertivo, merecendo prémio chorudo e não castigo abusivo, como é sempre o trabalho de casa. Obviamente, os alunos, dotados de senso de justiça maior que o meu, não tocaram no tpc nem ao de leve e eu também nem sequer toquei no assunto e dei-me por feliz por não ter ouvido deles nenhuma repreensão consequente.
Depois da aula, dirigi-me por mail ao DT, manifestando a minha preocupação por aquilo que supus ser alguma epidemia de bom comportamento que venha a pôr em causa, de modo irreversível, todo o trabalho de ajavardamento que o ensino público tem vindo a implementar junto dos jovens. Se, por uma qualquer razão imponderável, isto continuar, correremos o risco de destruir definitivamente a identidade do nosso sistema educativo.
E pronto, fiz a minha parte, cumpri o meu dever – avisei quem de direito. Mas ainda estou estupefacto, palavra de honra…
Post 793 (Imagem daqui)
Se me irrita? Irrita. Com todo o respeito que me merecem os e as poetas da cibernet, quero assumir aqui que me irrita a poesia barafundística, as tiradas de auto-ajuda, as citações moralistas e a cristianíssima imagística da caridade benevolente, da solidariedade decadente.
E irrita-me sobretudo tudo o que me sugere que me entregue à provação, de coração limpo e alma resignada. Irrita-me quem me promete dias melhores, quem me propõe édenes espirituais de felicidade tola, quem me aconselha contenção verbal e equilíbrio hormonal. Irrita-me quem nos sugere benévola e eterna compreensão, quem nos propõe que, quais hímenes complacentes, permaneçamos elasticamente dóceis a toda a investida sexual do insaciável monstro financeiro… (Será que nunca vamos romper?…)
Post 792 (Imagem daqui)
Uma velha anedota do velho Reader’s Digest: Um pedinte, sentado numa esquina, com um velho violino na mão, vai chamando a atenção dos passantes. -“Meus senhores, dêem-me uma esmolinha, porque este violino é o meu único ganha-pão… e eu não o sei tocar.”
Substituamos agora o pedinte por um professor do ensino secundário, substituição essa que, aliás, não é demasiado forçada nem obriga a grande esforço de imaginação. Substituamos também o violino do pedinte pelo ganha-pão do professor, o canudo com que dantes via Braga, mas agora não vê nem o Cabedelo. Ficaremos então com um professor a pedir esmola numa esquina qualquer, estendendo a mão com que segura um esvoaçante certificado, sem saber exactamente o que fazer com ele…
Mas levemos o símile um pouco mais longe e, em lugar do canudo, coloquemos mesmo uma verdadeira competência para ensinar, uma competência para ensinar feita de conhecimento, de sabedoria, de vontade. Será que os professores ainda sabem mesmo tocar tal instrumento? Afinal, “ensinar” dedilha-se ou toca-se com arco? As nossas estratégias estão actualizadas? Estão as nossas cordas afinadas? São os nossos métodos eficazes ou não passam de aplicações pontuais de psicotrópicos ou choques eléctricos em alunos ora grosseiros ora sonolentos? É que, depois do que nos fizeram, não creio que sejamos ainda professores, mas sim uma espécie sui-generis de pedintes sem violino, cuja competência evanescente nos terá irreparavelmente abandonado. (Veremos se ainda a temos se um dia voltarmos a precisar dela).
E ainda que a nossa música continue espertíssima, os nossos saberes frescos e intactos, rijas e perenes as nossas vontades, não encontraremos ouvintes disponíveis nas nossas salas de aula (digo, nossas esquinas da vida…)
Post 791 (Imagem daqui)
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Farewell angelina there's no need for anger the jacks and the queens | see the cross-eyed pirates sitting king kong, little elves the machine guns are roaring |
Joan Baez/Bob Dylan 1965 Farewell Angelina
Post 790 (Imagem daqui)
…Nem eles, nem os meus alunos, nem os mestrandos, doutorandos, psicólogos, economistas, políticos, sociólogos, antropólogos e toda a casta ornitológica e restante passaredo que por aí se espenuja... |
Diderik Stapel, um psicólogo holandês extremamente conceituado, tem vindo a publicar estudos vários no âmbito da psicologia relacional, como, por exemplo, um estudo sobre o efeito do poder na hipocrisia, outro sobre os estereótipos raciais ou o estudo sobre como a publicidade afecta a forma como cada um se vê a si próprio. Segundo a Visão, estes estudos são falsos, visto que o autor inventou os resultados. A comunidade científica entrou em alvoroço, a comunicação social retirou-se envergonhada por ter um dia feito divulgação encómica e acetinada ao grande perscrutador da actividade psíquica humana. Nada que eu não esteja farto de ver nos trabalhos dos meus alunos. Ok, ok, também em trabalhos de estágio de professores. Ok, ok, eu cedo, também em trabalhos de mestrado (e por favor, não me voltem a dizer “mèstrado” e “vàcina” e “Càrina”que se me funde o resto dos neurónios). O quê? Também de doutoramento?! Essa já é demais… Enfim, nos tempos que correm tudo é possível. Pois, eu sei. Quando fazemos um inquérito de opinião a um universo que ostente faixa etária ampla, dos 8 aos 80 | anos, por exemplo, gostamos de afirmar na ficha técnica que auscultámos duas ou três mil pessoas espalhadas de norte a sul, quando, em boa verdade, auscultámos o puto lá de casa, a legítima e os pais dela que lá apanhámos num dos últimos almoços familiares. Os resultados do inquérito sempre respeitam, obviamente, a nossa hipótese. Família é família, é para estar de acordo connosco, que diabo. E ainda que essa cambada de comensais barulhentos nos refute a hipótese, que mal há em subvertê-la? Eles jamais vão ler aquilo. Nem eles, nem os meus alunos, nem os mestrandos, doutorandos, psicólogos, economistas, políticos, sociólogos, antropólogos e toda a casta ornitológica e restante passaredo que por aí se espenuja. Mas acaso vocês pensam que inventar é mais fácil que descrever a clara certidom da verdade? Não é. Woody Allen inventou uma problemática literária baseada nas cuecas de Metterling, mas Woody Allen é um génio. Sócrates e Coelho inventaram um país e Merkl inventou um continente inteiro. O capitalismo inventou uma crise mundial para conseguir mão-de-obra a preço da chuva. Há ou não há pura genialidade nisto tudo? E eu vos garanto que tudo isto é verdade. Eu, que também sou um génio… |
Post 789 (Imagem daqui)
Não, não é falta de imaginação. É obsessão mesmo. Já aqui coloquei este poema de Juan Manuel Serrat, num tempo em que ele fazia menos sentido do que faz agora. Os bons poemas, servidos por composições de boa têmpera, fazem sempre jeito para nos recolocarmos na História… “Pueblo Blanco” é uma tenaz e robusta descrição de uma aldeia sem mar, onde os mortos estão em cativeiro e não os dexam sair do cemitério.
Colgado de un barranco Por sus callejas de polvo y piedra El sacristán ha visto De la siega a la siembra Y las muchachas hacen bolillos | Ellas sueñan con él Escapad gente tierna Toma tu mula, tu hembra y tu arreo, Si yo pudiera unirme Serrat Mediterráneo |
Post 788 (Imagem daqui)