30 de outubro de 2010

a cadeira do poder


cadeirão
Li no amirgã mais um sarcástico texto que nos recorda a semelhança que Eça via entre os políticos e as fraldas. Eça achava, de facto, que os políticos são como as fraldas, que devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão.

Discordo em absoluto. Cheiram, claro, (e quase tanto e tão depressa como as ditas) mas isso acontece exactamente porque os eleitos do povo sabem que serão mudados num abrir e fechar de olhos, desalojados das

suas fofas cadeiras em menos de um fósforo (embora quase nunca a tempo de evitar a contaminação do ar, como de facto acontece com as fraldas).

No primeiro dia em que um político senta na cadeira do poder, digamos assim pela tardinha do primeiro dia, por vezes ainda antes das telenovelas que tão artisticamente produzem e encenam, já ele começa a imaginar onde vai buscar o graveto para estimular as suas contas bancárias (as legítimas e as outras, pois claro) antes que o povo se arrependa de o ter escolhido. E corrompe-se e cheira rápido como elas, as fraldas…

A verdade é que deveríamos dar aos políticos lugares robustamente perenes, ou, pelo menos, dar-lhes a ilusão de que o eram, embora não o sendo, obviamente.  Isso levá-los-ia a adiar os primeiros golpes, visto que, descansadamente, pensariam que não haveria urgência tão urgente em afundar o país, tarefa que poderia esperar até o dia seguinte, mês seguinte, ou mesmo ano seguinte, sempre depois das divertidas telenovelas da sua predilecção. É isto, prontos.

(Imagem daqui)

1 comentário:

odete ferreira disse...

Um dos problemas da maioria dos políticos é que, logo no primeiro dia, se postam diante do magro tesouro da nação e entram em delírio,auto-sagrando-se monarcas e distribuindo, arrogantemente, o arroz que sobra do seu banquete.
O outro é a beatífica ignorância que ostentam e patrocinam, como se a cultura fosse cicuta eleitoral.
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