Duas da tarde. Hora do café. E o pároco da aldeia ali comigo, falando de nadas. E na TV a notícia da morte de José Saramago. E o padre, de nariz avermelhado do refogado e do da Bairrada, atira, bonacheiro, que a esta hora o escritor já ardia no fogo do Inferno. Coitado, nem sequer reparou que Saramago não tem Inferno. Nem Céu. E que não ardeu nem nunca arderá. Céu e Inferno são criações ultimate dos crédulos, cada vez mais propriedades privadas deles e quase às moscas… (Ninguém mais acredita nem num nem noutro e ninguém se inscreve para ir viver para qualquer um desses sítios).
E depois os partidos, as nações… Para os nacionalistas portugueses: “levou o nome de Portugal a todos os cantos (quatro?) do mundo; para os nacionalistas espanhóis: nasceu em Portugal, mas, descontente com o estado português, acabou por optar pelo nosso país; para o PSD: um homem que prezou a liberdade e se fez a si próprio; para o PS: assumiu sempre as próprias contradições e seguiu em frente apesar de todas as contrariedades.
O PP ainda não tinha falado. O PCP também não. O PCP TAMBÉM NÃO. E esta?
(Imagem daqui)
1 comentário:
Ena,pá, 2010!
Sempre acutilante, pírrico, mordaz e que se me perdoe a redundância. Ainda bem que me avisas que já não há inferno! Quanto ao céu, tenho pena! Depois de uns dias nas termas do Purgatório, ia-me saber que nem ginjas, ali sentadinha, embaladinha por anjos e arcanjos!
Ah! A verdade e a hipocrisia, a palavra e o silêncio dos partidos!
Tão adultamente sérios! Como diria sir Roger, tanto ponto de espantação!
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