Ora aí está ele. Já veio para ficar o e-Portfolio
Lê-se, no blog de Domingos Oliveira, o seguinte: “O e-Portfolio é uma apresentação multimédia realizada pelo aluno e com materiais seleccionados por este e que mostra uma visão enriquecida e estruturada do processo de desenvolvimento e aprendizagem do aluno.”
A partir da mesma publicação, soubemos, entre outros disparates, que Jones & Shelton, 2006, 18-19, ainda se espreme mais para enaltecer o e-Portfolio: “Os e-Portfolios, como documentos personalizados do percurso de aprendizagem, são, logicamente, ricos e contextualizados. Contêm documentação organizada com propósito específico que claramente demonstra conhecimentos, capacidades, disposições e desempenhos específicos alcançados durante um período de tempo. Os Portfolios representam ligações estabelecidas entre acções e crenças, pensamento e acção, provas e critérios. São um meio de reflexão que possibilita a construção de sentido, torna o processo de aprendizagem transparente e a aprendizagem visível, cristaliza perspectivas e antecipa direcções futuras. (Os sublinhados e a correcção da pontuação são meus).
Não tenhamos dúvidas. A documentação de um e-Portfolio dos alunos dos 7º ou 8º anos (prescrevem e-Portfolios para todos) é organizadíssima e demonstra, claramente, (aliás, poucas coisas serão mais claras que um e-Portfolio, se exceptuarmos a governação socratina) conhecimentos e capacidades. Certamente, demonstrará, pelo menos, os conhecimentos e as capacidades que os alunos copiaram directamente da net, sem sequer terem lido a fonte original.
Ah. Mas eles representam ligações entre acções e crenças, isto é, os professores crêem que o portfolio é do aluno, e o aluno age como se ele fosse, realmente, seu.
Quanto às ligações que se estabelecem entre pensamento e acção e entre prova e critério, lamento desapontar os meus atentos leitores mas esqueci completamente o que isto poderia, eventualmente, significar.
Mas eles são, obviamente, um meio de reflexão que possibilita a construção de sentido, sim, de sentido único, o sentido da mediocridade medular.
A aprendizagem tornar-se-ia transparente, de facto, se ela, eventualmente, existisse…
O que é que esta gente pretende? Quem pretende esta gente enganar? Que prazer terá esta gente em se enganar a si própria?
(Os meus sinceros agradecimentos a todos os idiotas do ensino-aprendizagem que me permitem irritar-me todos os dias. Isto prolonga-me a vida, muito para além do meu edema…)
(Imagem daqui)