Em Inglaterra, os pais dos alunos são multados no caso de estes faltarem às aulas. Trata-se de um castigo há muito institucionalizado na velha Albion, com o qual não posso estar mais em desacordo. Os teóricos e gestores ingleses da Educação implementaram tal estratagema para envolver os pais na luta contra o absentismo escolar. A olho grosso, até faz algum sentido. A medida obteve, de facto, resultados aceitáveis neste campo, pois que reduziu quer o absentismo esporádico, quer o abandono escolar para níveis perfeitamente aceitáveis. Antes desta medida, que já vem da segunda fase da revolução industrial, a Inglaterra beirava um absentismo infantil e juvenil que começava a ser preocupante.
Mas dizia eu no início que estava em desacordo com esta medida e desejaria nunca a ver aplicada cá no burgo lusitano, apesar de saber que, numa primeira fase, ela poderia render aos cofres do estado uma verba nada despicienda. E discordo simplesmente porque o absentismo e o abandono escolares não são, nem de longe, os mais graves, os mais frequentes, os mais nefastos problemas da Educação no nosso país. De facto, se alguns alunos, ou vários, ou mesmo uma boa quantidade deles, sobretudo dos que não querem estudar, resolverem faltar a algumas aulas, ou mesmo muitas, ou optarem definitivamente pelo abandono, tudo resultará muito mais apetecível e proveitoso para os alunos que estiverem presentes. Se nos faltarem todos os alunos que não querem estudar, o facto melhorará substancialmente a vida dos que querem.
Se desprezarmos todas as questões laterais ao ensino (aquelas que se prendem com a imagem do país fora de portas, com as questões do emprego dos docentes, com as questões estatísticas e sociológicas), quanto menos forem os alunos maior será a eficácia do ensino e melhores os resultados das suas aprendizagens. Deixem-me ser um pouco mais duro: quem não quer nem aceita o sistema, não lhe é imprescindível (a menos que voltemos a incluir aqui as questões do desemprego docente, das estatísticas para europeu ver, da promoção de ATL’s porreirinhos, da ajuda aos pais através da recepção e manutenção dos seus rebentos por baby-sitters instruídos, dóceis e amiguinhos da pequenada, etc., etc.).
Proponho, pois, um ligeiríssimo desvio àquela norma anglo-saxónica. Em vez de multarmos os pais cujos filhos se ausentem das aulas, multemo-los antes quando os seus filhos se tornarem demasiado presentes nelas, tão presentes que perturbem irremediavelmente o desejado funcionamento dos actos de ensinar e de aprender. Se multarmos sistematicamente os pais dos alunos mal comportados, resolveremos a curto prazo alguns problemas de tesouraria e outros tantos relacionados com o burn out, stress agudo, esgotamento e exaustão dos docentes mais velhos, obrigados a permanecer no sistema até perto dos 70 anos. A longo prazo, teremos finalmente alunos mais educados, atentos, disciplinados, compreensivos, atinados e, consequentemente, mais felizes…
Post 776 (Imagem daqui)
2 comentários:
Concordo com tudo, excepto com o título. Um bem haja ao João que, tantas vezes, ousou e tão bem "opinou em Educação"! Mais uma vez, vai deixar saudades! um abraço Marla
Tb gostei muito. Voto, de alma e coração, nessa multa. Faty
Enviar um comentário