Intendência: foram hoje corrigidos erros e gralhas em alguns textos, entre 18 de Agosto e 18 de Setembro.
Post 780
Um amigo da minha idade, que também ainda não conseguiu fugir da escola, escrevia-me há dias mais ou menos assim: ”A minha delegada de grupo é uma jovem de pouco mais de três décadas de idade, talvez quatro, no máximo. Precisa subir apenas um ou dois escalões para chegar ao topo da carreira. Mas, segundo ela, os escalões podem esperar…
Chamou-me para a ajudar a preencher os meus descritores de avaliação, que são descritores de quem não quer mais que um BOM. Fui com ela ver a grelha, que elencava, imponente, descritores de avaliação inverosímeis. Grande parte deles não me calavam, de facto, fundo na alma. Para ser sincero, não entendi mais que um terço deles, nem quanto à exegese nem quanto às intencionalidades. Nenhum deles me fazia, portanto, grande sentido. (Na minha idade e estatuto, cada vez menos coisas fazem sentido).
Diante do meu insistente pedido de colocar NÃOs por ali abaixo, ela aquiesceu em colocar apenas alguns, de modo a não comprometer o meu Bom. Se ela acedesse ao meu pedido, nem um REGULAR eu ia tirar naquela joça toda…
Ainda bem que tenho uma Delegada de Grupo companheira, compreensiva e suficientemente gerontofílica. Nem todas são assim por esse secundário fora, eu vos garanto…”
Depois, estendeu as pernas, bebeu um trago e suspirou reconfortado…
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Com o fim de denunciar uma alegada perseguição do governo à classe média portuguesa, Nuno Pombo proclama que uma pessoa que ganha 5000 euros por mês não pode ser considerada rica. Acrescenta ele ainda que considerar rico um tipo que ganha aquele salário só pode ser uma estratégia de insuflamento do ego português por meio de um processo indutivo perverso. (Já não me lembro se as palavras são dele ou minhas, mas o conceito permanece idêntico…)
Porém, a falar verdade, nas minhas relações de amizade não há ninguém que ganhe sequer metade daquilo. E eu não vivo na Nigéria, no Botswana ou no Sudão, caramba.
A ideia que eu tenho de um bom ordenado difere certamente da de Nuno Pombo. Eu acho que sim, que 5000 euros por mês é, de facto, ordenado de quem deveria ser obrigado a fazer mais alguma coisa por este país...
Cá por mim, se tivesse um ordenado de 5000 euros por mês, até deixava de trabalhar… ;)
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A filosofia educacional do professor Everett J. Wilson, director do secundário na Masters School (Estado de Nova York), promove a separação dos sexos, com vista à aprendizagem diferenciada de rapazes e raparigas. A filosofia, apesar de nos parecer retrógrada e um pouco rançosa, pode muito bem estar certa, pelo menos em parte.
No meu tempo (algures entre a Antiguidade Oriental e os Beatles), não havia turmas mistas. Todos desconfiávamos da existência de raparigas, mas nenhum de nós tinha, até então, tido a ventura de estar a menos de cinquenta metros de uma delas. A primeira vez que vi uma garota numa das minhas turmas foi nos finais da década de sessenta, eu era um morceguito de 17 anos e nunca mais dei uma para a caixa nas aulas de Latim… Ainda hoje não consigo descrever a perturbação que aquela presença feminina trouxe à minha vida académica e à organização das minhas aprendizagens. (Um pouco mais tarde descobriria que o estrago que as mulheres provocam nas nossas vidas vai, de facto, muito além da nossa carreira académica).
Por seu turno, as raparigas não são menos prejudicadas nas turmas mistas, por causa das bocas impróprias ou extemporâneas da inconsequente e boçal rapaziada. De facto, é visível que a canalha do sexo masculino se costuma armar aos cágados com as suas alarvidades e que as garotas, mais maduras, acabam por lamentar o tempo que estão ali a perder na sua companhia…
Um pouco mais a sério, quem defende a teoria da separação de género baseia-se na diferença de ritmos de aprendizagem, embora não sustente, de modo inequívoco, qual dos sexos é mais rápido e qual mais lerdo.
Com um pouco de azar, perfila-se no horizonte uma nova divisão de trabalho. Basta acrescentar à questão dos ritmos de aprendizagem alguns programas, cargas horárias e disciplinas um pouco mais consentâneas com a sensibilidade do belo sexo. Et voilà.
E é assim que, em nome da eficácia educativa, se sacrifica o festivo colorido de uma turma alegremente promíscua e atarantada. Tudo no bom sentido e a bem da nação, é claro... :)
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Em Inglaterra, os pais dos alunos são multados no caso de estes faltarem às aulas. Trata-se de um castigo há muito institucionalizado na velha Albion, com o qual não posso estar mais em desacordo. Os teóricos e gestores ingleses da Educação implementaram tal estratagema para envolver os pais na luta contra o absentismo escolar. A olho grosso, até faz algum sentido. A medida obteve, de facto, resultados aceitáveis neste campo, pois que reduziu quer o absentismo esporádico, quer o abandono escolar para níveis perfeitamente aceitáveis. Antes desta medida, que já vem da segunda fase da revolução industrial, a Inglaterra beirava um absentismo infantil e juvenil que começava a ser preocupante.
Mas dizia eu no início que estava em desacordo com esta medida e desejaria nunca a ver aplicada cá no burgo lusitano, apesar de saber que, numa primeira fase, ela poderia render aos cofres do estado uma verba nada despicienda. E discordo simplesmente porque o absentismo e o abandono escolares não são, nem de longe, os mais graves, os mais frequentes, os mais nefastos problemas da Educação no nosso país. De facto, se alguns alunos, ou vários, ou mesmo uma boa quantidade deles, sobretudo dos que não querem estudar, resolverem faltar a algumas aulas, ou mesmo muitas, ou optarem definitivamente pelo abandono, tudo resultará muito mais apetecível e proveitoso para os alunos que estiverem presentes. Se nos faltarem todos os alunos que não querem estudar, o facto melhorará substancialmente a vida dos que querem.
Se desprezarmos todas as questões laterais ao ensino (aquelas que se prendem com a imagem do país fora de portas, com as questões do emprego dos docentes, com as questões estatísticas e sociológicas), quanto menos forem os alunos maior será a eficácia do ensino e melhores os resultados das suas aprendizagens. Deixem-me ser um pouco mais duro: quem não quer nem aceita o sistema, não lhe é imprescindível (a menos que voltemos a incluir aqui as questões do desemprego docente, das estatísticas para europeu ver, da promoção de ATL’s porreirinhos, da ajuda aos pais através da recepção e manutenção dos seus rebentos por baby-sitters instruídos, dóceis e amiguinhos da pequenada, etc., etc.).
Proponho, pois, um ligeiríssimo desvio àquela norma anglo-saxónica. Em vez de multarmos os pais cujos filhos se ausentem das aulas, multemo-los antes quando os seus filhos se tornarem demasiado presentes nelas, tão presentes que perturbem irremediavelmente o desejado funcionamento dos actos de ensinar e de aprender. Se multarmos sistematicamente os pais dos alunos mal comportados, resolveremos a curto prazo alguns problemas de tesouraria e outros tantos relacionados com o burn out, stress agudo, esgotamento e exaustão dos docentes mais velhos, obrigados a permanecer no sistema até perto dos 70 anos. A longo prazo, teremos finalmente alunos mais educados, atentos, disciplinados, compreensivos, atinados e, consequentemente, mais felizes…
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Só agora reparei que continuo a usar a reforma ortográfica de 1911 ou, quando muito, a primeira convenção ortográfico de 1931, em vez do famigerado Acordo Ortográfico de 2008. Prevarico, pois, há dois anos. Na verdade, não consegui ainda levar a sério o acordo luso-brasileiro de 1990, nem este último de 2008.
Os restantes países de língua portuguesa (nossas ex-colónias quer de África, quer da Oceânia, ou mesmo da Ásia) sucumbiram aos tratados e/ou convenções ortográficas dispostos entre 1945 e 1998. Só o Brasil e Portugal, por uma ou outra razão, preferiram permanecer com sistemas de escrita algo dissemelhantes e isso, na verdade, raramente levantou algum problema de comunicação entre mim, que sou praticamente um português de 500, e minha mulher que é uma nipo-brasileira de Kioto, S. Paulo.
Foi por esta razão, a ausência de ruído comunicacional, que descurei sistematicamente a obediência à última convenção ortográfica, a da abolição dos cês mudos preconsonânticos, E permaneci até hoje com os meus cês e os meus pês, quer os diga quer não, como insecto, árctico, baptismo e facto (no Brasil, fáquito), tão do gosto dos etimologistas oitocentistas (e do meu).
Mas não tenho nada contra o novo registo do linguajar lusitano. Não o uso simplesmente porque nem me tinha apercebido de que já estava em vigor, com usança praticamente generalizada.
Quando apanhar a primeira multa por uso indevido e antiquado da língua de Eça, de Pessoa e de Camilo, juro emendar-me de imediato. Enquanto isso não acontecer, NÃO.
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E pronto, ontem lá voltámos todos à escola para preencher o retorno. (Enfim, todos não, que a escola agora é só para os velhos). E verificámos que os primeiros colegas que encontrámos estavam mais parecidos com o último dia de Julho do que com o primeiro dia de Setembro. Aparentemente, nenhum raio de sol tinha iluminado aquelas tezes pálidas. É como se não tivesse havido um mês de férias de permeio. Alguns estavam vestidos do mesmo modo que os deixei em Julho, a mesma pasta de lona ruça semi-ensebada, a mesma expressão ausente, o mesmo ar cansado, a mesma curvilínea ostentação dorsal. E já se reinstalara neles o discurso pedagógico, que tão rapidamente substituíra o balnear. E tudo isto no primeiro dia de Setembro! Alguns, mais jovens do que eu, tinham pedido a reforma e referiam-se a isso com olhos luzidios, marejados, Disseram que não aguentavam mais.
E eu, que nunca percebo nada do que se passa ao meu redor, saí dali com um perturbador receio do contágio e vim continuar as férias até a próxima segunda-feira, pelo menos, que ninguém se lembra de começar seja o que for a uma quinta-feira, muito menos uma planificação, um teste diagnóstico, uma reunião de análise de resultados ou qualquer outra cretinice semelhante…
Se houve alguma dessas coisas ontem, ou mesmo hoje? Resposta: Não faço a mínima ideia, nem tenho tenções de saber… bahhhh!
Post 774 (Imagem daqui)