Entre os professores menos jovens (um pouquinho menos jovens, enfim, como é o meu caso) a falta de memória é uma situação constrangedora mas ao mesmo tempo contraditória: se, por um lado, ela representa um atentado bem sucedido à nossa competência profissional (um professor sem memória serve para quê?), por outro lado, ela sabe esconder-se criteriosamente sob o manto diáfano da fantasia que ainda dita que o professor sabe sempre tudo (valha-nos Deus) e que todas as suas limitações aparentes não passam do seu proverbial bluff educacional.
Ser professor de línguas é, notoriamente, uma profissão crítica nesta matéria da desmemorização, como se sabe. Quando um falante esquece um vocábulo, sobretudo no plano do léxico activo, isso compromete em parte (ou no todo, Santo Deus), a eficácia do discurso. Ah, mas tenhamos calma: no meio do discurso, nos momentos cada vez mais frequentes em que a memória nos falha, podemos sempre pedir auxílio aos alunos, implorando-lhes a palavra que falta ou o redireccionamento do discurso em que nos perdemos. Eles vão continuar a achar que estamos a desempenhar o tradicional papel (de pedagogia duvidosa, sabe Deus) do professor que faz perguntas para os avaliar e não pela simples e cruel razão de se ter esquecido da matéria…
Daí a contradição: no professor, a desmemorização tanto se manifesta de modo fulgurante como se esconde de modo providencial.
(Imagem daqui)
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