Adquiri recentemente o PRS 600 touch edition da Sony. De todas as referências que li e vi sobre o gadget, nenhuma se mostrou, quanto a mim, verdadeiramente confiável. Umas porque eram óbvias propagandas do produto e outras porque o apresentavam de modo mais ou menos apaixonado, poucas foram as que analisaram o produto de forma rigorosa e desmistificadora. Vou eu tentar fazê-lo agora, visto que já possuo o aparelho há três semanas, tempo suficiente para começar a apreciar nele o que ele é e não o que desejaria que ele fosse.
A primeira conclusão que devo apresentar a todos quantos desejem adquiri-lo é a de que o gadget não é bom nem é mau. Faz, de um modo apenas aceitável, aquilo para que foi criado – ler livros electrónicos.
A primeira mistificação que nos é apresentada pela propaganda refere-se à duração da bateria. Oito mil virares de página, diz o fabricante. É absolutamente falso. Depois de carregada ao máximo (o que de facto se consegue em menos de 4 horas por ligação USB), dispus-me a ler um livro, no caso “Three Men in a Boat”de Jerome K, Jerome, que, no formato Epub e na fonte de tamanho médio (visto que o tamanho por defeito é ilegível na sua pequenez), apresenta 175 páginas. Não usei nenhuma outra função do aparelho, à excepção do virar de página, quer por meio da tecla de avanço, quer por meio do toque no ecrã táctil. Ao longo de 5 dias consegui concluir o livro. Porém, o que sobrou da bateria foi quase nada, a ponto de, uma vez reiniciado, o aparelho requerer de imediato nova carga. Posso, pois esclarecer os eventuais compradores que os 8000 virares de página por carga de bateria é pura mistificação. Uma carga de bateria dá para ler um livro médio e há que ser muito frugal no manuseamento.
Outra mistificação é a chamada tecnologia e-ink ou e-paper. Tratando-se de um écran táctil, o contraste fica seriamente comprometido. Não posso dizer que não seja possível ler, já que podemos aumentar o tamanho da letra, o que corrige parcialmente algumas limitações devidas à falta de contraste. Não é, no entanto, nada do que afirma o fabricante. São apenas letras cinzentas escuras sobre fundo cinzento um pouco mais claro. O Sony 550 possui melhor contraste, visto que não recorre a tecnologia touchscreen, o que o torna certamente mais apetecível neste ponto.
Outra limitação deste gadget é a quantidade de formatos que lê sem problemas, que é muito reduzida. Lê bem o formato BBeB da Sony, o Epub, o Doc, o TXT, o RTF e o PDF. Porém, não lê o HTML, pelo que é necessário proceder à conversão deste formato para Epub, por exemplo, o que leva o seu tempo e atenta contra a paciência dos leitores.
A leitura de imagens é pobre. A ausência de contraste transforma todas as fotos em uma massa desfocada e desinteressante, pelo que não vale a pena tecer expectativas à volta desta função.
Nem tudo é mau. O ecrã não cansa a vista, ao contrário do que acontece com os ecrãs frequentes rectro-iluminados. Se houver boa luminosidade ambiente, pode-se dizer que o ereader cumpre a sua função. Com luz artificial, ainda que incidente, a leitura fica um pouco mais desconfortável. O som é soberbo, embora deite abaixo a bateria em menos de um fósforo. O tópico ouça música enquanto lê perde todo o sentido em face do que se pretende de um ebook reader – levar connosco uma centena ou duas de livros e ficar duas semanas lendo, sem ter que o recarregar. O PRS 600 está ainda a milhas deste desiderato. Tem, de facto, ainda muito trilho a percorrer.
Enfim, o gadget é bonito, quase todos os clássicos estão disponíveis gratuitamente, é possível comprar best-sellers em algumas livrarias. Faz sentido que rapidamente as editoras portuguesas se debrucem a sério sobre o leitor de livros electrónicos e disponibilizem a cultura e a informação a um preço muito mais razoável do que a que se vende em papel tradicional.
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