O presidente da república disse primeiro e pediu desculpas depois. Faz sentido. É a ordem normal das coisas. Mas eu, o anormal da blogosfera, estou neste momento a pedir desculpas a todos os meus leitores por tudo o que vou dizer a seguir.
Em primeiro lugar tudo aquilo que o Presidente da República disse não passa de abobrinha. Não tem nenhuma relevância política nem, por si só, poderia jamais ensombrar qualquer relação entre um presidente e os seus súbditos. Seria um simples descaso, prontinho para passar despercebido e enfiar na gaveta do esquecimento, não fosse a paranóia colectiva que atacou duro este povo bipolar. E foi então que a blogosfera e as ditas redes associais evidenciaram todo o azebre que lhes cobria os amarelos (trata-se de um sucedâneo da imagem recorrente do estalar de verniz, mas em versão metaloide). E vai daí, inventaram aquele expediente primário, típico da parolografia mais refinada que esta nação pariu ultimamente, expoente máximo do jumentismo mais saloio (estúpido simbolismo que ainda não abandonou de vez a literatura e a ignorância populorum), de ir deixar moedas no palácio de Belém.
Não votei Cavaco, não o defendo, não o entendo. Acho-o, de facto, um pouco irrelevante. Não levo muito a sério quase nada do que ele diz, já que não diz nada de verdadeiramente inesperado, vívido, revolucionário, romântico, criativo, sério, oportuno. Em Cavaco, o lugar-comum é um lugar sentado e eterno…
Mas apareceram na televisão os cretinos que vinham depositar as moedas no chapéu do presidente, cheios do mesmo discurso simbolista do homem necessitado a quem vêm prestar o caritativo auxílio. Meu deus, (que deves estar no céu porque aqui já não dá mais) que nem a fazer piadas estes tipos a têm. Deve ser coisa de humor retrasado de revista decadente que, tal como o ubíquo simbolismo, ainda acha que é coisa fina. Não suporto os simbolistas, não por não os entender (o simbolismo é a mais primária das manifestações de comunicação), mas exactamente pela sua inerente deprimência.
E os polícias, cujas caras não abonam em favor da inteligência (embora não pretenda com isto insinuar qualquer relação de causa e efeito entre aquela e a bobinóide expressão do olhar), não quiseram receber o dinheiro. Já não falo das galinhas e dos ovos, e das nabiças e do casqueiro que os solícitos cidadãos levaram a Sua Ex/a, que o Solar de Belém não é uma cortelha qualquer, porra. Isso não! Mas o dinheirinho Sua Ex/a devia mandar aceitar, providenciando quantos alforges ou chapéus fossem necessários para recolher as dádivas. No fim do dia, poderia aparecer numa das janelas agradecendo ao povo (ambas as mãos içadas em estilo papal) por tão bondoso, patriótico e clemente (e molóide) gesto.
Não preciso pedir desculpas agora. Já o fiz no início.
Post 812 (Imagem daqui)