21 de maio de 2010
ouvido aqui e ali
20 de maio de 2010
minudências minhas
Não sou plagiador. Sou, provavelmente, um ignoplagiador. Em consciência não plagio. Na ignorância, já me tenho deparado com ideias que considerava minhas e, afinal, são de outro. Também outros já o fizeram. Quase todos. É demolidor ler um texto assinado por outros cujo teor é o de algum artigo que escrevemos anos antes. Sei que o verdadeiro plágio envolve conteúdo e forma. E consciência. Nessa perspectiva, não me considero um plagiador.
Plágio ou não, resta-me lamentar quanto mal a minha ignorância pode fazer aos outros…
(Imagem daqui)
elegância e rolhas
A restrição à liberdade de pensamento é um facto praticamente incontestável neste final da primeira década. Obviamente, não se trata, espero esperançadamente, da proliferação de prosélitos bufos a espreitar pelas esquinas o que alguém do outro lado vai murmurando entre dentes. Não é bem isso, embora isso esteja talvez mais perto de acontecer do que a saída da crise. A restrição à liberdade está a ser imposta sorrateiramente por uma moda mais ou menos inconsciente que dita que ficar calado é uma atitude de extremo bom gosto. À medida que todos vamos aderindo, o espectro da rolha agiganta-se na razão directa da elegância situacional…
E não temos (nem precisamos de ter) uma superstrutura oficial a controlar o nosso direito à opinião. Ou será que a temos, mesmo sem dela necessitarmos?
19 de maio de 2010
ouvido aqui e ali
- “… e já agora quero informar-te de que te vou propor para o Quadro de Mérito…”
- “Eu?! Mas que foi que eu fiz desta vez?”
15 de maio de 2010
coisas giras por email
“Naquele tempo, Jesus subiu ao monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem. Depois, tomando a palavra, ensinou-os, dizendo:
Em verdade vos digo:
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles...
Pedro interrompeu:
- Temos que aprender isso de cor?
André disse:
- Temos que copiá-lo para o papiro?
Simão perguntou:
- Vamos ter teste sobre isso?
Tiago, o Menor, queixou-se:
- O Tiago, o Maior, está sentado à minha frente. Não vejo nada!
Tiago, o Maior gritou:
- Cala-te, queixinhas!
Filipe lamentou-se:
- Esqueci-me do papiro-diário.
Bartolomeu quis saber:
- Temos de tirar apontamentos?
João levantou a mão:
- Posso ir à casa de banho?
Judas Iscariotes exclamou:
(Judas Iscariotes era mesmo malvado, com retenção repetida e vindo de outro Mestre)
- Para que é que serve isto tudo?
Tomé inquietou-se:
- Há fórmulas? Vamos resolver problemas?
Judas Tadeu reclamou:
- Podemos ao menos usar o ábaco?
Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada... ninguém entendeu nada!
Um dos fariseus presentes, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada, tomou a palavra e dirigiu-se a Ele, dizendo:
Onde está a tua planificação?
Qual é a nomenclatura do teu plano de aula nesta intervenção didáctica mediatizada?
E a avaliação diagnóstica?
E a avaliação institucional?
Quais são as tuas expectativas de sucesso?
Tens a abordagem da área em forma globalizada, de modo a permitir o acesso à significação dos contextos, tendo em conta a bipolaridade da transmissão?
Quais são as tuas estratégias conducentes à recuperação dos conhecimentos prévios?
Respondem estes aos interesses e necessidades do grupo de modo a assegurar a significatividade do processo de ensino-aprendizagem?
Incluíste actividades integradoras com fundamento epistemológico produtivo?
E os espaços alternativos das problemáticas curriculares gerais?
Propiciaste espaços de encontro para a coordenação de acções transversais e longitudinais que fomentem os vínculos operativos e cooperativos das áreas concomitantes?
Quais são os conteúdos conceptuais, processuais e atitudinais que respondem aos fundamentos lógico, praxeológico e metodológico constituídos pelos núcleos generativos disciplinares, transdisciplinares, interdisciplinares e metadisciplinares?
Caifás, o pior de todos os fariseus, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações do primeiro, segundo e terceiro períodos e reservo-me o direito de, no final, aumentar as notas dos teus discípulos, para que ao Rei não lhe falhem as previsões de um ensino de qualidade e não se lhe estraguem as estatísticas do sucesso. Serás notificado em devido tempo pela via mais adequada. E vê lá se reprovas alguém! Lembra-te que ainda não és titular e não há quadros de nomeação definitiva!
... E Jesus (como muitos de nós!) pediu a reforma antecipada aos 33 anos.”
(Autor não identificado. Enviado por Susana Oliveira)
(imagem daqui)
filosofia barafundística
Pensei muito esta semana sobre o destino do Homem e concluí, finalmente, que não há vida depois da morte. Se houvesse vida depois da morte, já todos saberíamos, dada a quantidade de mulheres que já morreram. Elas nunca seriam capazes de guardar um tal segredo…
(Imagem daqui)
10 de maio de 2010
obsessões do meu ipod (13)
Arthurex, um puto nipo-americano, toca Bob Dylan. One More Cup of Coffee ou Valley Below, é uma canção de despedida, depois de uma noite de amor com uma bela cigana. O vale lá em baixo representa aqui um pouco a descida à vida real, onde a vida continuará sem os doces atractivos da pequena cigana. Arthurex poucos sabem quem é, ainda. É, no entanto, uma promessa de uma juventude que se interessa pelos grandes vultos poéticos do passado. Fica como curiosidade.
Your breath is sweet
Your eyes are like two jewels in the sky
Your back is straight, your hair is smooth
On the pillow where you lie
But I don’t sense affection
No gratitude or love
Your loyalty is not to me
But to the stars above
One more cup of coffee for the road
One more cup of coffee ’fore I go
To the valley below
Your daddy he’s an outlaw
And a wanderer by trade
He’ll teach you how to pick and choose
And how to throw the blade
He oversees his kingdom
So no stranger does intrude
His voice it trembles as he calls out
For another plate of food
One more cup of coffee for the road
One more cup of coffee ’fore I go
To the valley below
Your sister sees the future
Like your mama and yourself
You’ve never learned to read or write
There’s no books upon your shelf
And your pleasure knows no limits
Your voice is like a meadowlark
But your heart is like an ocean
Mysterious and dark
One more cup of coffee for the road
One more cup of coffee ’fore I go
To the valley below
9 de maio de 2010
a palavra dos outros
“Não me embebedei, não me droguei, se calhar fui sempre velho” - jorge silva melo, ontem, ao I
Currículos à parte, talentos à parte, profissões à parte, estatutos à parte, Jorge Silva Melo é igual a mim. Pelo menos foi isso que, em absoluto, senti ao ler esta deliciosa entrevista onde, ao se escancarar, também escancara muitas das idiossincrasias da geração que nasceu há sessenta anos atrás. Desassombradamente, declara que a sociedade contemporânea tem música a mais e que a música da revolução dos cravos era insuportável. Não há críticos de teatro, mas a cidade de Lisboa é agradável porque ainda tem buracos, imperfeições e pataniscas.
(Imagem daqui)
8 de maio de 2010
O sr deputado tomou posse…
Quando aquele deputado do PS roubou os dois gravadores ao jornalista, alguém se referiu ao acto como uma tomada de posse: “ele tomou posse de dois gravadores”. A curiosa expressão estava, no meu inconsciente, ligada a uma cerimónia mais ou menos protocolar e honorífica em que governantes ou presidentes se apresentam ao país, assumindo que o vão governar a partir desse (por vezes hilariante) momento. Está tudo explicado. É bem possível, pois, que, a partir desse momento, também os governantes metam as mãos nos nossos bolsos… para nos roubar os gravadores, é claro…
Eles tomam posse, está visto…
(Imagem daqui)
5 de maio de 2010
escola light ou as margaridas rebelo pinto da educação
A escola é pobre em calorias. Não engorda. Os nossos alunos estão anorécticos de conhecimento. O conhecimento que a escola hoje ministra é um iogurte de pedaços, corpos danone, um bifidus inactivo laxante e diurético. Predominantemente feminina e amaricada, a escola secundária pública hoje está cheia de rodriguinhos regimentais, de inoperantes estéticas, de levianíssimos conteúdos. Não mais se vislumbra nela a seriedade da análise, a tonalidade reflexiva, a circunspecção que promove. Ela embrulhou-se numa burocracite pobre, limitativa e mal enjorcada.
Todos parecemos gostar disto, viver bem com isto. Estamos acomodados a uma preguiçosa e estéril balbúrdia. Uns por estarem a alguns meses do abandono definitivo; outros porque descobriram que há por toda a escola remansos aprazíveis onde é possível permanecer intocados sem fazer grande coisa; outros ainda por considerarem que fazer grandes coisas nesta escola é atentar contra os resíduos de inteligência que ela ainda possui, todos ou quase todos estamos cumprindo programas mínimos para uma irrevogável erosão cultural, social e educacional. A escola light, dirigida e exercida por um contingente de indivíduos primariamente tangenciais, perde substância muscular mas ganha em saúde intestinal e vesical e faz um figuraço em todas as passerelles europeias.
(Imagem daqui)