(coisas de velhos que tiveram preguiça de ter fé…)
Ontem na praia, olhei para o mar e voltei a olhar. E não entendi.
Decididamente não entendo o mar. Nem Deus. Nem nenhuma das coisas grandes. Não entendo a Verdade.
Olho para o mar e vejo que me suplanta, me excede, me esmaga.
Mas ele atirou para os meus pés descalços uma orla de pedras miúdas, polidas, de cores fáceis, de metafísica módica. Conto-as, dedilho-as, admiro-as, amo-as, entendo-as. Do grande mar-deus-verdade nada sei. Mas sei dos pequenos seixos com que me atapetaram a orla das ondas, com que me reposicionam a aprendizagem das coisas simples. A verdade é longa demais para o meu sentido tão curto, como a mentira é curta demais para o meu desejo tão longo…
Fica-me a verdira, o meio caminho entre uma e outra. Aí, nessa orla de mornas e acessíveis aquisições gnoseológicas, poderei viver aceitavelmente esclarecido.
Ontem na praia, as pedras coloridas que o mar me deu…
Post 773 (Imagem daqui)