Não consigo conceber esta zanga dos Portugueses com Herman, ou de Herman com os Portugueses. Admito que Herman José esteja de mal com os Portugueses, depois do modo como foi vilipendiada a Hora H”, a sua última produção televisiva. Não aceito, no entanto, que tenha sido o povo a enxotá-lo.
O Humor é, como a Política, um assunto muito sério. É tão necessário a um povo como uma liderança sólida e competente. O Humor é mais imprescindível que a Educação. Ele é, quando excelente, a própria educação de um povo. Se os nossos políticos não merecem o povo que têm, no caso do Humor a coisa funciona ao contrário: o nosso povo não soube merecer o humorista que tem – Herman José.
O primeiro programa de Herman, O Tal Canal, foi saudado pelo povo como algo inovador e absolutamente radical. E foi-o, de facto. Mas foi também um programinha primário, até medíocre, se o compararmos com as produções posteriores do humorista. Porém, à medida que Herman evoluía realmente (Herman Enciclopédia, O Casino Royal, O Humor de Perdição e, sobretudo, Hora H) o povo ia-se desligando, acabando por desistir de Herman, detestando-o até um pouco, sem articular um esforço para aprender e evoluir com ele. Enquanto Herman fez um humor directo, básico, elementar, o povo adorou-o. Quando Herman voou para um humor realmente fascinante, o povo chutou-o por imprestável.
É por isso que considero que a longa ausência de Herman junto dos Portugueses só é compreensível se tiver sido o próprio Herman a ditá-la. Já é um pouco mais triste considerar que o povo português não tenha evoluído a ponto de reclamar uma nova e urgente presença do maior humorista português de todos os tempos.
(Não quero nem pensar que possa haver outras razões que tenham eventualmente ditado o afastamento de Herman José das casas dos Portugueses)
(Imagem daqui)