25 de novembro de 2007

Nossa Senhora e a Cunha

Terminaram as comemorações dos 90 anos das aparições de Fátima. O blog é o melhor lugar para fazer um comentário sobre aquilo de que nada se sabe. Por isso, vou aqui deixar a minha opinião sobre Fátima. Tenham calma, não vou apresentar uma tese a favor ou contra o que quer que seja. Pertenço ao grupo bronco dos agnósticos, só que eu sou um agnóstico no sentido mais elementar do termo, isto é, sou um perfeito boçal em relação às coisas da doutrina. Vou apenas cingir-me a uma mensagem que Nossa Senhora proferiu, aquando da sua aparição de Agosto. N.S. pediu aos pastorinhos que rezassem muito pela alma dos pecadores. Sem as suas (deles, pastorinhos) orações, os pecadores (que já nesse tempo eram aos milhares) iriam certamente esturricar-se no fogo do Inferno. Se, porém, rezassem copiosamente, os pastorinhos poderiam libertar muitas almas daquele inoportuno churrasco.
Estão a ver? Nossa Senhora, provavelmente sem querer, acabara de introduzir a cunha e o compadrio na própria administração divina. Das suas palavras infere-se, facilmente, que, para nos livrarmos do fogo do Inferno, não é necessário sermos justos, mas termos um amigo que o seja. Qualquer indivíduo pode continuar com a sua vidinha de devassidão e malvadez, desde que possua um ou dois amigos crentes, virtuosos e tementes que resolvam interceder por ele e recomendá-lo às altas esferas do poder divino.
Et voilà…

23 de novembro de 2007

Violência Doméstica

Neste preciso momento, discute-se a violência doméstica numa estação de rádio. Eu, que sou o homem mais brando que se possa conceber, enfim, um verdadeiro banana, também já tive vontade de bater em mulheres (e não só nas que me couberam em sorte), tanta quanta já tive de bater em homens, sobretudo se são mais inteligentes, ricos, poderosos, belos e saudáveis do que eu.
Porém, bater numa mulher é mais um acto da irredutível estupidez do género masculino. Vão-me agora dizer que também há mulheres que batem nos homens? Eu sei. Já apanhei delas muito mais do que de outros homens, e sem nunca chegar a entender a razão por que o fizeram. (E estou terrivelmente intrigado por elas já não o fazerem).
Mas essas pujantes e vetustas madonas que batem nos homens não se devem levar a sério. Elas fazem-no com a mesma distraída displicência com que sacodem os tapetes na sacada. Muitas delas nem se apercebem verdadeiramente da diferença.
Mulher é muito mais laboriosa nos actos e nos objectivos, quando se trata de aporrinhar um marido. Com esse intento, utilizam, geralmente, doses de cianeto um pouco além das recomendadas, ou espetam alfinetes nos seus vudus, laboriosa e penelopemente executados. Embora a segunda estratégia possa falhar, a primeira apresenta elevadas probabilidades de dar certo…
Já o homem, não. Irracional e embrutecido, mal lhe dá para desarrincar um plano de qualidade sofrível. O supra-sumo da inteligência a que um homem já se guindou, nesta questão de maltratar a legítima, foi bater-lhe sempre fora de casa. Pelo menos este acto não poderia nunca ser considerado violência "doméstica". (Não compreendo o facto de o juiz, um homem tão culto, não ter entendido a piada. Devia estar, certamente, mal disposto com a notícia de vir a ser funcionário público)
...
[Ah, e já chega de me dizerem que a imagem não tem nada a ver com o texto. Mania…]

Teatro blogosférico

A Falta
(Apanhados na Rede)

[17:03:02] j.m. diz :
Acho que vamos ter falta à sessão de informação sobre avaliação do desempenho…
[17:03:44] R.C. diz :
Tu que dizes?!!!
[17:07:27] j.m. diz :
Estão-me a pedir para ir lá assinar o papel.
[17:07:43] R.C. diz :
Qual papel???!!!!
[17:08:04] j.m. diz :
O papel das presenças.
[17:08:22] R.C. diz :
Estão a marcar faltas, é?
[17:08:43] j.m. diz :
É, deve ser isso.
[17:09:17] R.C. diz :
Estou em casa a trabalhar prá escola. Se me marcam aí falta, paro já!!!
[17:10:30] j.m. diz :
Pois, eu não quero ser chato, mas a F. M. acabou de me dizer que há lá uma folha de presenças.
[17:11:04] R.C. diz :
O que não quer dizer que marquem falta... Se a folha fosse de faltas, podíamos ter falta... mas como é de presenças, não há-de haver azar.
[17:11:10] R.C. diz :
Pois... eu tb penso assim. Os que assinarem têm uma presença e os outros não...
[17:11:20] R.C. diz :
Tal e qual!
[17:11:25] j.m. diz :
Mas olha lá! Será que não ter presença não vai equivaler a ter uma falta?!
[17:11:50] R.C. diz :
Nada disso. Presença é uma coisa, falta é outra, porra!!
[17:12:04] j.m. diz :
Tb penso assim... Mas, se não é para distinguir os que foram daqueles que não foram, para que raio têm lá um papel de presenças?
[17:12:10] R.C. diz :
Para se saber quem lá esteve e não quem faltou, ora essa…
[17:13:04] j.m. diz :
E como se distingue um tipo que esteve lá de um que não esteve, a não ser pela falta?
[17:13:18] R.C. diz :
És burro ou quê? Distingue-se pela presença, é claro.
[17:14:03] R.C. diz :
Ainda aí estás ou já foste assinar o papel?
[17:14:17] j.m. diz :
Mas qual papel? O das faltas ou o das presenças?
[17:15:01] R.C. diz :
O das presenças, meu pequeno lorpa.
[17:15:20] j.m. diz :
Eu faltei, não posso assinar o papel das presenças.
[17:15:40] R.C. diz :
Assina o das faltas, porra!
[17:16:00] j.m. diz :
Se eu assinar o papel das faltas, posso ter falta, ora.
[17:16:12] R.C. diz :
Olha lá, meu parvo! Tu não estiveste na Escola até às quatro horas?!
[17:16:55] j.m. diz :
Estive. Ainda estou. Estou aqui no Ninho das Víboras...
[17:17:10] R.C. diz :
Então, assina só meia assinatura. Mas assina.
[17:17:58] j.m. diz :
Ah é? E depois? Vou ter meia falta, não?
[17:18:50] R.C. diz :
Pois, mas também ficas com meia presença. Não se pode ter tudo. Isto não é o da Joana…


(cai a ligação, muito confusa)

20 de novembro de 2007

arrepiantes sensações de quase muda perseguição...

… ao ouvir rádio, ao ler jornais, revistas ou a blogosfera, e ainda mais se tudo isso for feito com a exacerbada atenção de um quase alucinado ouvinte/leitor, avoluma-se-me a sensação de que alguma coisa terrível se prenuncia para Portugal, para a Europa, para o mundo. Espreita no escuro alguma contingência medonha mas nebulosa, brumosamente ameaçadora, feita de um perigo surdo, impreciso, equívoco, como se fosse um nevoeiro sobre falésias. Uma cerração onde um indivíduo se pode estatelar a qualquer momento, sem saber onde foi que colocou em falso o pé, a mão, o corpo, ou onde lhe escorregou a palavra, o gesto, a opinião, a breve insensatez de um discurso. É como se tudo o que se diz ou escreve adquirisse semióticas demolidoras, como se todas as palavras se tornassem escorregadias, tomassem vida própria e traíssem quem as proferiu no mais íntimo e inocente remanso de um fim de tarde pacificado…

16 de novembro de 2007

Bom dia, João Gobern!

João Gobern, sempre cortando a direito no seu “Pano para Mangas”, falou hoje da blogosfera e anunciou ao mundo o seu desejo íntimo de criar um blog. Racional como sempre, começou por lhe apontar as fraquezas, mas acabou por lhe dar o benefício da dúvida.
Venha, João, a blogosfera portuguesa saúda-o e sabe que, consigo, ficará mais rica. Olhe para ela, para as partes boas dela (esquecendo as más, que também por cá pululam) e entregue-lhe os seus textos
escorreitos e as suas opiniões conceituadas. Assim, tout court, sem microfone e sem salário. Os que por cá andam há muito, graciosamente (nos dois sentidos), a fazer dela a tribuna que ela hoje é, recebê-lo-ão de braços abertos.
(Viu? Meti-me consigo, num duelo matinal, de sons de xícara de café…)

15 de novembro de 2007

Não direi isto duas vezes...

Por mais que se tente relativizar a questão da avaliação do desempenho (interiorizando o conceito com naturalidade e desdramatizando-o tanto quanto possível), ela está já, mesmo antes de verdadeiramente se instituir, a fazer as suas vítimas no sistema educativo.
As primeiras vítimas são os próprios avaliadores, obrigados a esgueirar-se pelos corredores como Groucho Marx, arregalando olhos e espevitando orelhas para que nada lhes escape, no desígnio de serem certeiros e justos (deixem-me acreditar nisto, por favor) no momento do veredicto.

As segundas vítimas são, obviamente, os avaliados, colocados já numa posição de desacreditada subalternia, cujas bocas já se calaram de vez, numa apagada e vil tristeza.
As terceiras vítimas são os alunos. Tendo-se apercebido já de quem são os avaliadores e os avaliados, tratam de utilizar isso de acordo com as suas conveniências, tentando obter alguns dividendos desta curiosa dicotomia (uma interessante novidade nas suas curtas carreiras académicas) e aprendendo (depressa demais) como medir pulsos, como pisar fragilidades, como promover operações de charme e como impregnar-se (cedo demais) deste temeroso deficit de probidade e honradez que grassa por todo o lado.
Péssimo presságio.
As restantes vítimas são a camaradagem que havia e não há mais, a solidariedade que um dia quase senti esboçar-se, e hoje não há dela nem um curto esgar, o empenho e a paixão que tantos professores votaram ao seu trabalho dentro e fora das aulas, e que hoje não passa de um arremedo do que já foi, pois não sobra para isso disponibilidade, depois de aquietados os umbigos e garantida a sobrevivência possível em um tal sistema.
Vejo na escola gente que chora por tudo e por nada, mulheres precocemente encanecidas, homens resignados a não sei que fados tristes.

Só a juventude parece ainda apreciar o sol das tardes, rebolando-se pelas escadarias. Mas, se olho mais atentamente, também ela me parece deslizar alegremente para um vórtice inevitável, de cuja existência ninguém lhe ensinou sequer a suspeitar…

14 de novembro de 2007

O Lobby dos titulares (meditando nas ameaças anteriores)

Sr. Titular
Além destas apocalípticas ameaças, que naturalmente ameaçam o seu bem estar físico e mental, aconselhamos uma estratégia de grupo dos elementos da sua casta, para melhor defenderem as mordomias e o poder que vos foi conferido, que vos traz impantes de uma legítima e lurdesiana autoridade.
Esses medíocres têm que saber quem são os mais aptos, os verdadeiros doutores da autocrática pseudo educação, os legítimos senhores da sociedade. É preciso constituir um verdadeiro lobby, que faça leis para fazer cumprir as leis, que mantenha o receio e o terror da sua avaliação, aconselhando o vosso imediato a que não ouça o clamor desses pretensos injustiçados, e assim o vosso bem estar físico e mental ficará certamente resguardado …. Pois lá diz o ditado popular “ Quem tem c … tem medo”


Zé Coimbra (meditando sobre o post anterior)
13 de Novembro de 2007
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Senhor Titular!
Concorreu ao tal concurso e foi aprovado?
NÃO DESESPERE!!!
Afinal o senhor mostrou ser muito corajoso e ter poucos escrúpulos, o que faz de si um grande vencedor. O senhor é, definitivamente, um TITULAR!!!

Mas não é invulnerável.
Na vida perigosa de hoje, o Senhor não está livre de, em qualquer momento, lhe substituírem por tijolos as rodas do seu automóvel, de lhe deixarem cair uma bigorna nas hastes, de colocarem dois ou três negrões no seu caminho para lhe darem um arraial de mocadas, de o violarem com uma grua ou mesmo de lhe colocarem um enxame de abelhas na almofada.
Livre-se de todas estas tragédias, de um modo fácil, conveniente e intuitivo: avalie bem os seus colegas não titulares, especialmente aqueles que você sempre detestou. Dê-lhes um MUITO BOM e dormirá descansado, pelo menos durante um ano lectivo.
O ambiente escolar agradece.

Companhia de seguros STT, o Sono Tranquilo dos Titulares !!!

Um Excelente, e vida pra frente!

10 de novembro de 2007

Reflexões sobre Reflectores da Educação (1)

Fico sempre muito triste quando professores do ensino secundário de reconhecido mérito não conseguem dizer o que é necessário dizer, o que faz sentido dizer, o que faz falta dizer, quando se referem ao nosso “sistema” educativo e às copiosas reformas que este governo lhe foi debitando num afã quase compulsivo. Fico mais triste ainda quando aqueles meritórios professores o tentam dizer, ou o dizem mesmo, mas de modo primário e simplista, como se os seus prováveis leitores não pudessem entender senão um discurso muito popular, muito básico e até um pouco inapto. Gostaria de poder contar com alguém que, estando dentro do sistema educativo, pudesse ter um discurso tão capaz, honesto, clarividente, sério e veemente como a maioria dos que estão fora dele. (Não teçam expectativas de que possa ser eu a fazê-lo. Nunca fui, não sou nem serei jamais um professor de mérito, e muito menos de mérito reconhecido.)
Apresentarei como exemplo do que fica dito a já célebre “Carta Aberta a Sua Ex.ª o Senhor Presidente da República”, da autoria de um meriteiríssimo professor aqui meu vizinho, que circulou recentemente pelos mails de tudo o que é professor do ensino médio. Não refuto nada do que lá está escrito, pois não é difícil ver ali o verdadeiro retrato duma parte importante daquilo que se passa hoje no sistema educativo. Porém, ainda que aparente ser um homem simples e despretensioso, Sua Ex.ª o Presidente merecia receber uma carta um pouco mais bem escrita e mais radical e insurgente.
Sua Ex.ª e nós.

9 de novembro de 2007

Não faço greve nunca, jamais, em tempo algum…

Lá para o fim do mês vai haver greve geral. No dia da greve não dou aulas. Ficarei em casa, mas não me declararei em greve. Nessa não caio eu, porque, como sabem, tenho dois tijolos burros, um de cada lado dos… etc. etc. etc. … o resto já sabem do post anterior.
Como me obrigam a prever as doenças imprevisíveis, estarei imprevisivelmente doente no dia da greve e esquecer-me-ei de entregar os planos de aula. (A um tipo de quase sessenta anos será admissível um esquecimento desses, visto que já me esqueci algumas vezes das salas onde sistematicamente dou aulas, tendo que recorrer a uma colega mais jovem).
Tentarei conseguir um atestado de médico. Porém, o meu médico não é burro e tem a mania de ser honesto, pelo que não mo passará, a menos que eu esteja realmente incapacitado. Diante destas circunstâncias, e colocado perante a hipótese de uma falta injustificada, aceitarei, contra minha vontade, que essa falta me seja justificada à luz da greve. Mas que fique bem claro, Senhora Ministra, lá greve é que eu não faço nem que me mordam…
(É que essa coisa dos tijolos…)

3 de novembro de 2007

Oh se me creste gente impia...

… rasga meus posts, crê na Senhora Ministra…

…e em Deus pai, todo poderoso, e na teoria geocêntrica e no governo do Partido Socialista e no Senhor Primeiro Ministro José Sócrates, e no bom caminho que os Teóricos da Educação estão a imprimir ao sistema educativo, e no sistema educativo, e no Estatuto do Aluno, e no do Professor, e em todos os que decidem no sistema educativo, pois não podem decidir senão bem… e na teoria geocêntrica, e que seja tudo como Suas Excelências quiserem...
...E não neste velho idiota, ignorante e inculto, cheio de ramela e de preguiça, coberto de hediondas fugas, a quem nasceram ultimamente dois tijolos burros que, postados um de cada lado dos tomates, ameaçam, sabe-se lá por que carga de água, espremê-los.
(Mas ela move-se, lá isso move, o diacho da terra...)