29 de julho de 2009

balanço

balanco Os melhores (os menos maus) do mês:

No meu tempo; Aurea mediocritas; Em nenhum lado vi cerejas

28 de julho de 2009

“…um doente sozinho, de máscara, ia tossindo e criando deserto à suavolta…”                                                    

                                                     Amirgã, 23 de Julho

doente

No meu tempo

No meu tempo não havia hospitais. Nem doenças. Só gripes e sarampos. Nunca se ia ao médico. Era o médico que vinha a nós. Encostava ao nosso peito o estetoscópio gelado e fazia-nos abrir a boca e dizer há. Depois escrevinhava com uma caneta de tinta permanente uma rabiscada mítica e entregava às nossas mães. No meu tempo havia mães, as nossas indecifráveis mães. Ansiosas solicitavam do médico a melhor maneira de nos tirar da cama. No meu tempo as gripes eram todas B ou C ou D e o sarampo era uma estratégia divina para fugir à escola. As doenças que matam só foram inventadas muito mais tarde. E se alguma existia não tinha hipótese connosco…

(Imagem daqui)

27 de julho de 2009

Pontos nos ii

avaliacao2 A avaliação dos Professores não pode basear-se, em definitivo, nos resultados escolares dos alunos. Este ponto parece ser pacífico, já que a própria CONFAP o reconheceu. Ela sabe que alunos estudiosos e empenhados fazem toda a diferença. Ela sabe também que não há estratégia que resulte contra o não quero e o não me apetece.

Se excluirmos um conjunto de tretas imprestáveis de natureza burocrática (como evidências da elaboração de instrumentos de ensino e de avaliação, ou outras da participação na vida escolar, ou do comprimento dos PAAE, por exemplos), ficamos apenas com as aulas assistidas. Pois é. As aulas assistidas para todos estão a bater à nossa porta. Nos próximos anos lectivos, todos os professores encetarão um segundo estágio pedagógico.

Muito bem. Vamos a isso. Quero todas as minhas aulas assistidas e não apenas uma ou duas por trimestre. Quero um formador exterior à escola, competente, da minha área científica, que acompanhe o meu trabalho cinco dias por semana, que trabalhe comigo na escolha de textos e de materiais, na invenção de estratégias contra a indisciplina e a negligência, na elaboração de instrumentos de avaliação, na correcção de testes e fichas, na reflexão e análise casuística.

Ecce avaliação docente. Não admito ser avaliado em duas ou três aulas por um burro maior que eu. O meu avaliador deverá ser menos burro do que eu e rejeitar toda a espécie de albarda.

(Imagem daqui)

26 de julho de 2009

Aurea mediocritas

A criançada, em número de seis exemplares (alguns deles sendo claramente seus), encharcava-se na água alambre da swimming-pool de plástico de três metros. A sogra acabava de aurea medchegar dentro daquele seu inolvidável vestido às ramagens, apregoador de tantas primaveras passadas, e trazia um bolo de noz. A mulher soprava umas brasas para assar uns nacos de carne de promoção. Ele, sentado na cadeira de plástico branco, folheava a Dica da Semana e sorria sereno de alguma novidade política, inconfidência de estrela pop ou baixa de preços, sentindo no ar o cheiro certificado da família e das febras. Uma única preocupação enrugava, de quando em vez, as testas do casal: que algum dos respectivos amantes telefonasse agora, a estragar as alegrias da consoladora e reconfortante tarte de noz familiar…

(Imagem daqui)

25 de julho de 2009

Minudências minhas

poder O poder

Nunca o tive em minhas mãos, nem mesmo para saber de que cor ele é. Mas ouço falar dele desde, pelo menos, 1974. E, aparentemente, raras vezes estacionou ele nas mãos certas, ou, pelo menos, nas mãos menos erradas. O poder deve ser como o dinheiro (que também nunca tive): quem o tem quase nunca o merece, quem nunca o teve nem sequer sabe se é mau viver sem ele, nem se é bom viver com ele…

Nem pensem em um dia me dar poder, ainda que seja um poderzinho limitado, assim do tipo mandar numa ilhota como a do Alberto João. Pensam que eu me ficava por umas alarvidades contra a república, o estado, o governo, o ministério? Nada disso. Eu afundava mesmo. Destituía dos seus lugares todos os políticos, administradores, chefes, directores, capatazes, para colocar lá os meus amigos e as suas esposas (pelo menos as menos feias e as que cozinham bem e que alguma vez me tivessem convidado para almoçar, jantar ou outra).

Isso não seria um governo decente? Claro que não seria, seria apenas mais um governo para cumprir a tradição.

(Isto é mesmo a silly season)

(Imagem daqui)

17 de julho de 2009

Dicas para reconstruir a avaliação de desempenho

avaliacao De acordo com o pretendido, o ministério (o velho ou o novo) terá de seguir uma (ou várias) destas hipóteses: Para uma avaliação generosa, amigos verdadeiros.  Para uma avaliação facilitada, colegas baldas.  Para uma avaliação a nosso desejo, autoavaliação.  Para uma avaliação desastrosa e suicida, colegas inimigos.  Para uma avaliação rigorosa, juízes de fora.  Para uma avaliação verdadeiramente formativa… … esquece.

 

 

(Imagem daqui)

15 de julho de 2009

Em nenhum lado vi cerejas…

tristeza Hoje encostei de novo na beira da estrada para de novo comprar cerejas. Que não, que já não tinha, que o tempo das cerejas acabou…

Devolvi-me à viatura, tão taciturno e triste como tarde de Outono.

É sempre assim: quando as cerejas acabam é como se, de repente, se apagassem os lumes do desejo. É o começo anunciado da subvida, levada a rojo, prostrada a quase morte. Não haver cerejas é como não haver o alento rubro das palavras.

Sem cerejas, como encadearemos as conversas?

(Imagem daqui)

10 de julho de 2009

O Ti’ Asdrúbal

blog O Ti’ Asdrúbal tem 85 anos. É um lenitivo para todos, porque nos empossa da esperança de que se pode chegar à sua idade com o seu vigor e a sua sanidade mental. A semana passada, ajudei-o a instalar o seu acer novinho de 400 euros. Liguei-o à rede global por meio de um serviço adsl que eu próprio decidi pagar-lhe. Melómano, ouve cotonetes clássicas. Devora toda a blogosfera nacional (até este blogue ele lê, imagine) e passa horas a analisar as notícias e os comentários dos jornais online. Hoje pediu-me que lhe ensinasse a criar um blogue. Diz que tem coisas para contar. Não perdi tempo. Cada minuto de demora é uma perda irreparável para o mundo…

(Imagem daqui)

Please, waiter…

waiter Please, waiter, traga-me outro ano lectivo, que este já está morno. Não sei que ano lectivo o senhor me serviu que já está para lá de morto. Olhe, ponha-lhe, por favor, um pouco mais de gás e sirva-mo em copo com asa, para eu saber como lhe pegar. E que tenha um cheiro de dinamismo e de contestação, caramba! Onde já se viu um ano lectivo arrefecer assim, amornar assim, aguar-se assim? …

Ah! O senhor está à espera de mudar de patrão? E o seu novo patrão vai decidir sobre a minha bebida?! Não seja tolo! Conheço muito bem esse seu presumível novo patrão e ele não me suscita mais confiança do que o antigo... Faça o que lhe digo: traga-me a bebida a meu gosto, quer mude de patrão, quer não. Right?

(Imagem daqui)

9 de julho de 2009

Estudos

estudo Um estudo é um conjunto de pesquisas cientificamente orientadas que produzem um determinado número de dados que são depois criteriosamente tratados (por isso se chama um estudo) de acordo com metodologias direccionadas para a obtenção de uma determinada verdade que toda a gente já sabia, muito antes de o estudo ser encetado. A grande vantagem de um estudo está, sobretudo, no facto de nos revelar, de um modo científico, exactamente aquilo que já todos sabíamos de um modo empírico, mas que já havíamos esquecido completamente, devido ao tempo que o estudo normalmente demora para concluir coisas. Daí resulta que um determinado facto é conhecido porque nós o vivenciámos. Seguidamente, esquecemos o facto porque tudo o que está sabido a gente esquece e pronto. Aí, alguém resolve fazer um estudo sobre esse facto, para que possamos concluir que já todos o conheciam abundantemente demais. (O estudo só tem serventia para relembrarmos o que já soubemos e decidíramos, por bem, esquecer.)

O exemplo mais sintomático desta imprestabilidade dos estudos é esse recentíssimo estudo (saiu hoje mesmo das cabeças pensadoras) dirigido por um qualquer especialista na área das ciências ocultas da educação (que Deus nos defenda das Ciências da Educação) segundo o qual se conclui, entre outras fulgurantes concludências, que a divisão dos professores em duas classes (a dos titulados e a dos destituídos) semeou a desordem e o caos no jardim do sistema educativo (poxa, isso é que é novidade!). Conclui também o estudo da eminência que esta divisão é artificial e que os titulados foram simplesmente recrutados ao acaso.

(Meu Deus! Porque é que eu não soube disso antes? O que a gente pode aprender graças aos estudos não está escrito em estudo nenhum…)

(Imagem daqui)

3 de julho de 2009

Afinal, Bernardino, em que ficamos?

bernardino Fazendo jus ao seu subtítulo, o Tralapraki parece ser o único medium que está contra a detonação de Manuel Pinho. Não faz nenhum sentido destituir um ministro pelo facto de ele ter chamado cornudo, ainda para mais em código, ao líder do grupo parlamentar do PC, Bernardino Soares. Toda a imprensa e toda a comandita oposicionista viram nisto um crime de lesa pátria ou de lesa magestade. Em vez de se ter escandalizado tanto, a Imprensa deveria, tão simplesmente, interrogar o ofendido, mais ou menos nestes termos: “Senhor Bernardino, o senhor é realmente cornudo, ou trata-se de mais uma mistificação do senhor Manuel?”  Esta simples Yes/No question aquietaria qualquer ânimo, qualquer que fosse a resposta: “Sim, sou, mas o ministro tem olhos de raia e não vê a mulher vai para três meses” ou “Não, não sou! E se ele quisesse realmente saber onde está a mulher, perguntava-me a mim”.

manuelpinho E é tudo. Encerrava-se aqui o incidente. O ministro ficaria mais uns tempos a fazer rir os portugueses (que é disso que eles precisam), os trabalhos parlamentares seguiriam o seu rumo sem belisco e as (des)honras de todos os parlamentaralhos sairiam intocadas.

Não deixa de ser, no entanto, um pouco ousada (embora, em meu entender, não tanto como outras já conhecidas) a atitude que Manuel Pinho protagonizou. Trata-se de uma “investida” (com toda a propriedade) no campo íntimo de um deputado da nação. Qualquer dia, qualquer membro de um qualquer governo se pode dar ao escândalo de sustentar publicamente que o deputado X usa cuecas de Lycra, o Y adormece agarradinho ao Teddy Bear e o Z ouve os ABBA no carro com os vidros abertos. Isto sim, seria a desmoralização total do parlamento e do país…

(Imagens daqui e daqui)